'Consumidores de alimentos precisam de educação', alertam pesquisadores

Mesa da audiência pública ocorrida na CRA nesta quinta-feira  Geraldo Magela/Agência Senado

'Consumidores de alimentos precisam de educação', alertam pesquisadores

  

Da Redação | 16/06/2016, 13h57 - ATUALIZADO EM 16/06/2016, 14h29

A falta de educação dos consumidores em restaurantes self-services chamou a atenção dos senadores em audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), esta quinta-feira (16). De acordo com a nutricionista e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), Raquel Botelho, em uma pesquisa feita em mais de dez restaurantes no Distrito Federal, 96% das pessoas não lavaram as mãos ao entrarem no restaurante, além de cometerem outras práticas ruins, como falar, tossir e espirrar em cima dos alimentos no balcão.

A audiência pública, requerida pela presidente da comissão, senadora Ana Amélia (PP-RS) e pelo senador Lasier Martins (PDT-RS), foi a última de três reuniões com o objetivo de instruir o relatório dos Projetos de Lei do Senado (PLSs) 672675 e 738/2015, que tratam sobre o combate ao desperdício de alimentos. O relator das matérias, que foram apensadas, é o senador Lasier, que se mostrou bastante preocupado com a informação da nutricionista.

— A problemática é generalizada. É como se tivéssemos que começar do zero. Eu queria ver de que modo nós podemos atingir a todos.  Então é impressionante a constatação que o senhor e a senhora nos fazem refletir aqui nesse momento —, disse Lasier.

Esse problema está relacionado à contaminação dos alimentos que são classificados como resto nos restaurantes, de acordo com a Instrução Normativa 10/2016 da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, conforme informou Raquel. Segundo a pesquisadora, esses alimentos não podem ser doados porque estão contaminados.

— Porque esse arroz, esse feijão que foi colocado ali, você não sabe quanto tempo aquela cuba ficou ali exposta e o nosso consumidor precisa ser muito educado —, afirmou Raquel.

Nesse estudo das práticas inadequadas dos consumidores em restaurantes, Raquel informou que as pesquisadoras observaram cenas inusitadas como a pessoa colocar a mão dentro do feijão para pegar a colher que havia caído.

— A gente tem um consumidor que não se preocupa —, descreveu.

Em outro trabalho desenvolvido no Hospital Universitário de Brasília (HUB), Raquel relatou que tentaram fazer uma campanha de boas práticas no restaurante do hospital, devido ao surto da gripe H1N1. As nutricionistas do refeitório observaram que nem os profissionais da saúde lavavam as mãos antes de se servirem. Elas tentaram fazer uma campanha, mas a reação das pessoas foi negativa.

— A reação das pessoas foi negativa: ‘quem é você para dizer’, ‘estou sendo censurado’, ‘eu posso fazer o que eu quiser’. Então em todos os extratos, a gente tem problema de educação do consumidor — afirmou.

Desperdício e Perda

O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no setor de Agroindústria de Alimentos, Antonio Gomes Soares, afirmou que das perdas que ocorrem em frutas e hortaliças no país, 10% acontecem no campo, 50% no manuseio e transporte, 30% em centrais de abastecimento e 10% nos supermercados e consumidores.

Antonio afirmou que um dos principais problemas nas perdas e desperdícios de alimentos no país é uma questão gerencial, de falta de qualificação dos que trabalham nesse processo.  Ele deu vários exemplos de erros em manuseios de alimentos durante a embalagem, o transporte e a exposição para o consumo em supermercados.

— O excesso de toque por parte dos consumidores. Quem nunca viu uma dona de casa comprar o quiabo e ela quebra a ponta do quiabo. Acreditam os senhores que alguém vai comprar aquele quiabo que está na gôndola com a ponta quebrada? Isso, sim, é um desperdício. Então precisamos de campanhas educacionais ao consumidor também — disse.

Prazo de validade

Os expositores se mostraram contrários à adoção de dois tipos de prazo de validade: o prazo de validade para venda e o prazo de validade seguro. Segundo Antonio, o  que poderia ser feito é o supermercado doar quando estiver faltando uma semana para esgotar o prazo, mas o que precisa é obervar a legislação para garantir que ele não seja punido caso alguém passe mal com o consumo daquele produto.

— O problema da doação ainda hoje está relacionado com o que vai acontecer se esse produto for mal acondicionado dentro de um local que vai depois distribui-lo. Teremos que ter cuidado de retirar de quem doa sem fazer dolo o ônus de algum problema, porque senão você inviabiliza que a doação seja feita — opinou.

O senador Waldemir Moka (PMDB-MS) também demonstrou preocupação com uma legislação que criminalize, ao invés de incentivar. Para ele, se os parlamentares tiverem precaução, haverá um engessamento que impedirá a doação.

— Talvez nós tivéssemos de estimular o restaurante, o produtor, o cara que vende, quando ele tem essas práticas que são as perfeitamente adequadas do ponto de vista da saúde — afirmou.

Raquel Botelho explicou que o prazo de validade não é estimado apenas quanto à presença de microorganismos nos alimentos, mas também quanto à experiência sensorial.

— As pessoas têm um conceito de estragado como sendo uma coisa só das bactérias. Eu só queria deixar claro que falar de prazo de validade não implica só uma questão microbiológica — disse.

Bancos de alimentos

Quanto à doação de alimentos, os expositores sugeriram que haja a presença de um responsável técnico dentro dos bancos de alimentos para garantir que o produto que ele recebeu do restaurante foi bem acondicionado e será bem reaquecido para o consumo.

Além disso, a pesquisadora da UnB disse que foi feita uma avaliação de 37 restaurantes em todo o país, por meio de uma parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social, em que se chegou à conclusão de que os programas de restaurantes e bancos de alimentos não estavam integrados.

— Muitos dos alimentos produzidos ali que sobravam poderiam ser doados para os bancos de alimentos que os próprios municípios têm, mas isso não acontecia. Muitos municípios terceirizam e, por ser uma empresa terceirizada, a legislação a impedia de receber e doar alimentos — afirmou.

 

Agência Senado

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