Comunidades terapêuticas têm dificuldade de acesso a recursos públicos

 

14/04/2011 - 16h59

'Comunidades' que tratam de dependentes químicos têm dificuldade de acesso a recursos públicos 

 

Estima-se que quase 80% dos tratamentos de dependência química são feitos pelas comunidades terapêuticas, grande parte delas vinculadas a grupos religiosos. Mas elas se defrontam com o problema da falta de recursos. As dificuldades dessas comunidades para obter financiamento público foi um dos temas discutidos nesta quinta-feira (14) pela Subcomissão Temporária do Senado sobre Políticas Sociais para Dependentes Químicos de Álcool, Crack e Outras Drogas.

Durante a audiência pública promovida pela subcomissão, a secretária de Assistência Social e Trabalho do município de Ponta Porã (MS), Doralice Alcântara, disse que as comunidades terapêuticas ainda não conseguem se adequar às normas exigidas pelo governo federal e, por isso, têm dificuldade em obter recursos da União.

- E aí, como não conseguem o financiamento, não fazem a adequação. Torna-se um ciclo. É necessário um período de transição - argumentou.

As normas e as exigências a que ela se refere estão na Resolução 101, de 2001, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que estabelece regras para a atuação das comunidades terapêuticas.

Assim como Doralice, a secretária nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça, Paulina Duarte, lembrou que muitas dessas comunidades "recebem há muito tempo algum suporte por parte dos municípios, apesar de isso ser insuficiente". Segundo Paulina, a maioria das comunidades terapêuticas foi criada "com boa vontade", mas sem uma estrutura adequada para atender os dependentes.

Ela citou levantamento feito em 2006 pelo governo federal, Universidade de Brasília (UnB) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no qual se verificou que quase 80% dos tratamentos de dependência são feitos por essas comunidades.

Ao responder a questionamento do senador Waldemir Moka (PMDB-MS) sobre a dificuldade na obtenção de financiamentos, Paulina lembrou que, no ano passado, o governo federal lançou um edital destinado às comunidades terapêuticas no valor total de R$ 34 milhões. Paulina ressaltou que ela mesma escreveu o edital, no qual evitou referências à resolução da Anvisa, exigindo "critérios mínimos que as comunidades são capazes de cumprir".

- Apesar das 2.500 vagas previstas, foram apresentadas demandas para apenas 985 vagas, pois os municípios não apresentaram projetos suficientes - lamentou.

Esse edital foi apresentado no âmbito do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, também lançado em 2010.

Orientação religiosa

O presidente da subcomissão, senador Wellington Dias (PT-PI), disse que vários representantes dessas comunidades protestaram contra o edital, argumentando que houve uma tentativa do governo de restringir a forma como eles trabalham - baseada na "terapia da fé". Paulina Duarte negou que houvesse tal intenção, destacando que o edital "só diz que não se pode obrigar ninguém a participar de cultos".

- Isso é uma questão constitucional. Não se pode obrigar uma pessoa a professar uma fé que não é sua. Não se pode, por exemplo, obrigar um evangélico a freqüentar uma missa católica ou vice-versa - respondeu ela.

Pesquisa nacional sobre crack

Paulina reiterou que dever ser divulgada em duas semanas uma ampla pesquisa sobre o consumo de crack no país ("o maior estudo sobre o uso dessa droga no mundo"). O objetivo é obter dados estatísticos sobre a disseminação da droga nas grandes cidades e na zona rural. Ela informou que o governo investiu R$ 7 milhões no levantamento, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pela universidade norte-americana de Princeton. Foram ouvidas, de acordo com ela, 25 mil pessoas.

A responsável pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas afirmou que "é necessária uma fotografia real da situação para não continuarmos a discutir o assunto de forma emocional".

- É claro que a droga está à nossa frente; ninguém nega o que se vê nas famosas cracolândias. Mas com o perfil exato dos usuários saberemos onde investir em ações de tratamento e reinserção - declarou Paulina.

Ricardo Koiti Koshimizu / Agência Senado
 

Notícias

Reforma do Código Civil exclui cônjuges da lista de herdeiros necessários

REPARTINDO BENS Reforma do Código Civil exclui cônjuges da lista de herdeiros necessários José Higídio 19 de abril de 2024, 8h52 Russomanno ressalta que, além da herança legítima, também existe a disponível, correspondente à outra metade do patrimônio. A pessoa pode dispor dessa parte dos bens da...

Juiz determina que valor da venda de bem de família é impenhorável

Juiz determina que valor da venda de bem de família é impenhorável Magistrado considerou intenção da família de utilizar o dinheiro recebido para adquirir nova moradia. Da Redação terça-feira, 16 de abril de 2024 Atualizado às 17:41 "Os valores decorrentes da alienação de bem de família também são...

Cônjuge não responde por dívida trabalhista contraída antes do casamento

CADA UM POR SI Cônjuge não responde por dívida trabalhista contraída antes do casamento 15 de abril de 2024, 7h41 Para o colegiado, não se verifica dívida contraída em benefício do núcleo familiar, que obrigaria a utilização de bens comuns e particulares para saná-la. O motivo é o casamento ter...

Atos jurídicos e assinatura eletrônica na reforma do Código Civil

OPINIÃO Atos jurídicos e assinatura eletrônica na reforma do Código Civil Ricardo Campos Maria Gabriela Grings 12 de abril de 2024, 6h03 No Brasil, a matéria encontra-se regulada desde o início do século. A Medida Provisória 2.200-2, de 24 de agosto de 2001, estabeleceu a Infraestrutura de Chaves...

A importância da doação com usufruto vitalício e encargos

A importância da doação com usufruto vitalício e encargos Amadeu Mendonça Doação de imóveis com usufruto e encargos como alimentos promove transição patrimonial e segurança familiar, requerendo documentação precisa e compreensão legal. quarta-feira, 3 de abril de 2024 Atualizado às 14:39 Dentro do...