Anulação de casamento. O que é isso?

Anulação de casamento. O que é isso?

By redator - 4 de fevereiro de 2019

Com o rompimento do laço afetivo que une um casal, é natural que os cônjuges procurem um advogado para dar início ao procedimento de divórcio.

É que, de fato, o divórcio é o meio mais comum para se decretar o fim do casamento.

No entanto, algumas vezes, a decisão pelo rompimento do relacionamento não se dá por causa do esmorecimento do afeto, mas pela descoberta de algum fato que torne a vida em comum impossível e insuportável.

E é aí que deixamos de falar em divórcio e passamos a falar em anulação de casamento.

Divórcio e anulação de casamento são a mesma coisa?
Sendo bem direto: não!


Anular um casamento é muito diferente de divorciar – apesar de parecerem ser a mesma coisa, já que estará oficialmente extinto o relacionamento entre o casal.
No entanto, a anulação produz efeitos bem diferentes do divórcio.

Então, em que a anulação é diferente do divórcio?
O divórcio é o ato pelo qual o Estado reconhece o fim do casamento. Ou seja, era uma união conjugal juridicamente válida que, com o divórcio, deixa de existir.

Na anulação é diferente.

A anulação ataca o próprio casamento em sua origem. O objetivo dela é mostrar ao juiz que o casamento foi tão errado que é como se ele nunca tivesse existido.

Consequência disso é que, uma vez anulado, tudo aquilo que ficou combinado em razão do casamento, deixa de existir e de produzir efeitos.

Por exemplo, quando falamos sobre o divórcio, temos que resolver as questões patrimoniais do casal, fazendo a partilha de bens (leia mais sobre a questão patrimonial do divórcio aqui).

Além disso, com o divórcio, cada ex-cônjuge adquire o estado civil de divorciado.

Contudo, como na anulação é como se o casamento nunca tivesse ocorrido, tendo sucesso nessa ação, os ex-cônjuges voltam a ser solteiros (ao invés de divorciados) e não se fala em partilha de bens. Tudo retorna ao estado anterior ao casamento.
E eu posso pedir a anulação em qualquer ocasião?
Evidentemente, não, senão haveria uma confusão entre os institutos do divórcio e da anulação do casamento, além de abuso nos pedidos anulatórios.

O Código Civil determina as hipóteses de anulação de casamento, que estão no art. 1.550:

COM O ROMPIMENTO DO LAÇO AFETIVO QUE UNE UM CASAL, É NATURAL QUE OS CÔNJUGES PROCUREM UM ADVOGADO PARA DAR INÍCIO AO PROCEDIMENTO DE DIVÓRCIO.
É QUE, DE FATO, O DIVÓRCIO É O MEIO MAIS COMUM PARA SE DECRETAR O FIM DO CASAMENTO.
NO ENTANTO, ALGUMAS VEZES, A DECISÃO PELO ROMPIMENTO DO RELACIONAMENTO NÃO SE DÁ POR CAUSA DO ESMORECIMENTO DO AFETO, MAS PELA DESCOBERTA DE ALGUM FATO QUE TORNE A VIDA EM COMUM IMPOSSÍVEL E INSUPORTÁVEL.
E É AÍ QUE DEIXAMOS DE FALAR EM DIVÓRCIO E PASSAMOS A FALAR EM ANULAÇÃO DE CASAMENTO.
DIVÓRCIO E ANULAÇÃO DE CASAMENTO SÃO A MESMA COISA?
SENDO BEM DIRETO: NÃO!
ANULAR UM CASAMENTO É MUITO DIFERENTE DE DIVORCIAR – APESAR DE PARECEREM SER A MESMA COISA, JÁ QUE ESTARÁ OFICIALMENTE EXTINTO O RELACIONAMENTO ENTRE O CASAL.
NO ENTANTO, A ANULAÇÃO PRODUZ EFEITOS BEM DIFERENTES DO DIVÓRCIO.
ENTÃO, EM QUE A ANULAÇÃO É DIFERENTE DO DIVÓRCIO?
O DIVÓRCIO É O ATO PELO QUAL O ESTADO RECONHECE O FIM DO CASAMENTO. OU SEJA, ERA UMA UNIÃO CONJUGAL JURIDICAMENTE VÁLIDA QUE, COM O DIVÓRCIO, DEIXA DE EXISTIR.
NA ANULAÇÃO É DIFERENTE.
A ANULAÇÃO ATACA O PRÓPRIO CASAMENTO EM SUA ORIGEM. O OBJETIVO DELA É MOSTRAR AO JUIZ QUE O CASAMENTO FOI TÃO ERRADO QUE É COMO SE ELE NUNCA TIVESSE EXISTIDO.
CONSEQUÊNCIA DISSO É QUE, UMA VEZ ANULADO, TUDO AQUILO QUE FICOU COMBINADO EM RAZÃO DO CASAMENTO, DEIXA DE EXISTIR E DE PRODUZIR EFEITOS.
POR EXEMPLO, QUANDO FALAMOS SOBRE O DIVÓRCIO, TEMOS QUE RESOLVER AS QUESTÕES PATRIMONIAIS DO CASAL, FAZENDO A PARTILHA DE BENS (LEIA MAIS SOBRE A QUESTÃO PATRIMONIAL DO DIVÓRCIO AQUI).
ALÉM DISSO, COM O DIVÓRCIO, CADA EX-CÔNJUGE ADQUIRE O ESTADO CIVIL DE DIVORCIADO.
CONTUDO, COMO NA ANULAÇÃO É COMO SE O CASAMENTO NUNCA TIVESSE OCORRIDO, TENDO SUCESSO NESSA AÇÃO, OS EX-CÔNJUGES VOLTAM A SER SOLTEIROS (AO INVÉS DE DIVORCIADOS) E NÃO SE FALA EM PARTILHA DE BENS. TUDO RETORNA AO ESTADO ANTERIOR AO CASAMENTO.
E EU POSSO PEDIR A ANULAÇÃO EM QUALQUER OCASIÃO?
EVIDENTEMENTE, NÃO, SENÃO HAVERIA UMA CONFUSÃO ENTRE OS INSTITUTOS DO DIVÓRCIO E DA ANULAÇÃO DO CASAMENTO, ALÉM DE ABUSO NOS PEDIDOS ANULATÓRIOS.
O CÓDIGO CIVIL DETERMINA AS HIPÓTESES DE ANULAÇÃO DE CASAMENTO, QUE ESTÃO NO ART. 1.550:
ART. 1.550. É ANULÁVEL O CASAMENTO:
I – DE QUEM NÃO COMPLETOU A IDADE MÍNIMA PARA CASAR;
II – DO MENOR EM IDADE NÚBIL, QUANDO NÃO AUTORIZADO POR SEU REPRESENTANTE LEGAL;
III – POR VÍCIO DA VONTADE, NOS TERMOS DOS ARTS. 1.556 A 1.558;
IV – DO INCAPAZ DE CONSENTIR OU MANIFESTAR, DE MODO INEQUÍVOCO, O CONSENTIMENTO;
V – REALIZADO PELO MANDATÁRIO, SEM QUE ELE OU O OUTRO CONTRAENTE SOUBESSE DA REVOGAÇÃO DO MANDATO, E NÃO SOBREVINDO COABITAÇÃO ENTRE OS CÔNJUGES;
VI – POR INCOMPETÊNCIA DA AUTORIDADE CELEBRANTE.
O MOTIVO MAIS COMUM DE ANULAÇÃO DE CASAMENTO É O VÍCIO DE VONTADE, PREVISO NO INCISO III DO ARTIGO. MAS O QUE É UMA VONTADE VICIADA?
MENCIONAMOS MAIS ACIMA QUE QUE A ANULAÇÃO TEM POR FUNDAMENTO A DESCOBERTA DE ALGUM FATO QUE TORNE A VIDA EM COMUM SIMPLESMENTE INSUPORTÁVEL.
O DESCONHECIMENTO DESSE FATO À ÉPOCA DO CASAMENTO CARACTERIZA O VÍCIO DE VONTADE, CONFORME O INCISO III DO ARTIGO ACIMA.
É COMO SE UM DOS CÔNJUGES CHEGASSE À SEGUINTE CONCLUSÃO: SE EU SOUBESSE QUE ELE/ELA ERA ASSIM, EU NÃO TERIA ME CASADO.
ENTÃO QUALQUER COISA QUE EU NÃO SABIA SOBRE O MEU MARIDO/ESPOSA QUANDO ME CASEI AUTORIZA A ANULAÇÃO?
NÃO.
O CÓDIGO CIVIL (PRINCIPALMENTE O ART. 1.557) ESTABELECE QUE TIPO DE DESCONHECIMENTO CARACTERIZARIA A VONTADE VICIADA. SÃO ELAS:
I – O QUE DIZ RESPEITO À SUA IDENTIDADE, SUA HONRA E BOA FAMA, SENDO ESSE ERRO TAL QUE O SEU CONHECIMENTO ULTERIOR TORNE INSUPORTÁVEL A VIDA EM COMUM AO CÔNJUGE ENGANADO;
EM OUTRAS PALAVRAS, SE ELE(A) MENTIU SOBRE INFORMAÇÕES RELEVANTES E ELEMENTARES À SUA IDENTIDADE E PERSONALIDADE, ENGANANDO O OUTRO SOBRE QUEM ELE(A), DE FATO, É.
EXEMPLO DISSO É O HOMEM QUE CASA COM UMA MULHER SEM SABER QUE ELA É ACOMPANHANTE.
II – A IGNORÂNCIA DE CRIME, ANTERIOR AO CASAMENTO, QUE, POR SUA NATUREZA, TORNE INSUPORTÁVEL A VIDA CONJUGAL;
POR EXEMPLO, QUANDO A ESPOSA DESCONHECE QUE O MARIDO, ANTES DO CASAMENTO, JÁ FOI CONDENADO POR ESTUPRO, OU JÁ FOI CONDENADO CRIMINALMENTE COM FUNDAMENTO NA LEI MARIA DA PENHA.
III – A IGNORÂNCIA, ANTERIOR AO CASAMENTO, DE DEFEITO FÍSICO IRREMEDIÁVEL QUE NÃO CARACTERIZE DEFICIÊNCIA OU DE MOLÉSTIA GRAVE E TRANSMISSÍVEL, POR CONTÁGIO OU POR HERANÇA, CAPAZ DE PÔR EM RISCO A SAÚDE DO OUTRO CÔNJUGE OU DE SUA DESCENDÊNCIA;
A TÍTULO DE EXEMPLO, QUANDO O CASAL CELEBRA O CASAMENTO SEM SABER QUE UM DELES É PORTADOR DO HIV.
E QUANDO POSSO PEDIR A ANULAÇÃO?
AO CONTRÁRIO DO DIVÓRCIO, QUE PODE SER PEDIDO A QUALQUER TEMPO, A ANULAÇÃO DO CASAMENTO TEM UM PRAZO DETERMINADO PARA SER REQUERIDO PERANTE O JUIZ.
ESSE PRAZO VARIA ENTRE 180 DIAS E 4 ANOS, DEPENDENDO DO MOTIVO DA ANULAÇÃO, E CONTANDO-SE A PARTIR DA DATA DA CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO.
NA ANULAÇÃO MOTIVADA POR ERRO ESSENCIAL, QUE É A MAIS COMUM E QUE EXPLICAMOS MAIS ACIMA, O PRAZO É DE 3 ANOS.
ULTRAPASSADO ESSE PRAZO, NÃO HÁ MAIS COMO TER SUCESSO NESSA AÇÃO DE ANULAÇÃO, CABENDO SOMENTE O DIVÓRCIO.
DESTA FORMA, HAVENDO A DESCOBERTA DE ALGUM FATO QUE TORNE A VIDA EM COMUM INSUPORTÁVEL, É DE BOM TOM LEVAR O CASO ATÉ UM ADVOGADO FAMILISTA, QUE FARÁ A ANÁLISE DOS FATOS À LUZ DA LEI, PARA VERIFICAR A POSSIBILIDADE DE AJUIZAR UMA AÇÃO ANULATÓRIA.
SENDO INVIÁVEL A ANULAÇÃO, CABÍVEL SOMENTE O DIVÓRCIO PARA DISSOLVER O VÍNCULO MATRIMONIAL ENTRE AS PARTES.

1.550. É ANULÁVEL O CASAMENTO: 

I – DE QUEM NÃO COMPLETOU A IDADE MÍNIMA PARA CASAR;
II – DO MENOR EM IDADE NÚBIL, QUANDO NÃO AUTORIZADO POR SEU REPRESENTANTE LEGAL;
III – POR VÍCIO DA VONTADE, NOS TERMOS DOS ARTS. 1.556 A 1.558;
IV – DO INCAPAZ DE CONSENTIR OU MANIFESTAR, DE MODO INEQUÍVOCO, O CONSENTIMENTO;
V – REALIZADO PELO MANDATÁRIO, SEM QUE ELE OU O OUTRO CONTRAENTE SOUBESSE DA REVOGAÇÃO DO MANDATO, E NÃO SOBREVINDO COABITAÇÃO ENTRE OS CÔNJUGES;
VI – POR INCOMPETÊNCIA DA AUTORIDADE CELEBRANTE.
O motivo mais comum de anulação de casamento é o vício de vontade, previso no inciso III do artigo. Mas o que é uma vontade viciada?

Mencionamos mais acima que que a anulação tem por fundamento a descoberta de algum fato que torne a vida em comum simplesmente insuportável.

O desconhecimento desse fato à época do casamento caracteriza o vício de vontade, conforme o inciso III do artigo acima.

É como se um dos cônjuges chegasse à seguinte conclusão: se eu soubesse que ele/ela era assim, eu não teria me casado.

Então qualquer coisa que eu não sabia sobre o meu marido/esposa quando me casei autoriza a anulação?
Não.

O Código Civil (principalmente o art. 1.557) estabelece que tipo de desconhecimento caracterizaria a vontade viciada. São elas:

I – o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;
Em outras palavras, se ele(a) mentiu sobre informações relevantes e elementares à sua identidade e personalidade, enganando o outro sobre quem ele(a), de fato, é.

Exemplo disso é o homem que casa com uma mulher sem saber que ela é acompanhante.

II – a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal;

Por exemplo, quando a esposa desconhece que o marido, antes do casamento, já foi condenado por estupro, ou já foi condenado criminalmente com fundamento na Lei Maria da Penha.

III – a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência;

A título de exemplo, quando o casal celebra o casamento sem saber que um deles é portador do HIV.

E quando posso pedir a anulação?
Ao contrário do divórcio, que pode ser pedido a qualquer tempo, a anulação do casamento tem um prazo determinado para ser requerido perante o juiz.
Esse prazo varia entre 180 dias e 4 anos, dependendo do motivo da anulação, e contando-se a partir da data da celebração do casamento.

Na anulação motivada por erro essencial, que é a mais comum e que explicamos mais acima, o prazo é de 3 anos.

Ultrapassado esse prazo, não há mais como ter sucesso nessa ação de anulação, cabendo somente o divórcio.

Desta forma, havendo a descoberta de algum fato que torne a vida em comum insuportável, é de bom tom levar o caso até um advogado familista, que fará a análise dos fatos à luz da lei, para verificar a possibilidade de ajuizar uma ação anulatória.

Sendo inviável a anulação, cabível somente o divórcio para dissolver o vínculo matrimonial entre as partes.

 Lucas Mamoru Rinaldi
Fonte: Rede Jornal Contábil

 

Notícias

TJ-MS nega indenização por abandono afetivo por falta de prova técnica

AUSÊNCIA PATERNA TJ-MS nega indenização por abandono afetivo por falta de prova técnica 1 de fevereiro de 2024, 10h48 Diante disso, o relator votou pela negativa do pedido de indenização por abandono afetivo por ausência de prova técnica. O entendimento foi unânime. Leia em Consultor...

Indenização por casa construída em terreno de parente deve ser partilhada

ÁLBUM DE FAMÍLIA Indenização por casa construída em terreno de parente deve ser partilhada 30 de janeiro de 2024, 18h16 Na ação, a mulher pedia o reconhecimento e a dissolução da união estável, com a devida partilha de bens. Ela informou que viveu com o homem entre 2013 e 2022. Confira em Consultor...

Conjur -Credor tem direito de executar dívida não contestada, estabelece STJ

Conjur -Credor tem direito de executar dívida não contestada, estabelece STJ Na impugnação parcial ao cumprimento de sentença, o credor tem direito de receber a parte incontroversa (não questionada) da dívida, inclusive por meio de penhora. Assim, não há razão para que o juízo postergue a execução...