Cadastro de bons pagadores

Lula veta projeto do Senado e cria cadastro de bons pagadores por MP

 

Data: 01/01/2011
Veículo: O ESTADO DE S. PAULO - SP


Presidente cede a reivindicação de órgãos de defesa de consumidores e restringe acesso a banco de dados sobre pessoas e empresas

Adriana Fernandes, Fábio Graner e Naiana Oscar - O Estado de S.Paulo


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou integralmente o projeto de lei aprovado em dezembro no Senado e criou uma regulamentação própria para o cadastro positivo, banco de dados dos bons pagadores. A Medida Provisória 518, acompanhada do veto, foi publicada no Diário Oficial da União de ontem e começa a valer imediatamente.


O projeto de lei aprovado pelos senadores foi alvo de críticas dos órgãos de defesa do consumidor por, simplesmente, criar o cadastro positivo sem estabelecer regras para o compartilhamento de informações dos bons pagadores. Isso, segundo as instituições, abriria brechas para a violação de privacidade e discriminação dos consumidores.


A Medida Provisória 518, publicada ontem, vai ao encontro dessas reivindicações. Segundo a diretora do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça, Juliana Pereira, a medida provisória regulamenta e disciplina de forma clara a consulta a esses bancos de dados, instituindo limites bem definidos para o funcionamento deles.


O texto determina que o nome de uma pessoa ou empresa só será incluído no cadastro positivo com autorização prévia. Permitida a inclusão, todos os pagamentos passarão a ser acompanhados pela empresa que gerencia o cadastro. Isso quer dizer que desde contas de luz, água, telefone fixo e pagamentos de dívidas bancárias ou compras a prestação, independentemente dos valores envolvidos, integrarão o cadastro positivo. As informações sobre telefonia móvel ficarão de fora por terem um volume maior de reclamações por cobrança indevida.


Direitos. Os consumidores terão o direito de cancelar o cadastro quando quiserem e acessar gratuitamente suas informações. A medida provisória também proíbe as empresas de cadastro positivo de coletarem informações que não estiverem vinculadas à analise de risco de crédito ao consumidor.


Agora, o Ministério da Justiça pretende promover um amplo debate para a elaboração de um novo projeto de lei sobre cadastro positivo a ser encaminhado futuramente ao Congresso Nacional. Até lá, o que vale é a MP.


O cadastro positivo vem sendo discutido há quase uma década. Os Ministérios da Justiça e da Fazenda discutiram o tema com órgãos de defesa do consumidor e vários projetos foram encaminhados à Câmara e ao Senado. Alguns deles, continuam tramitando.


Um dos principais argumentos de quem é favorável ao cadastro - bancos, comércio e empresas de análise de crédito - é a possibilidade de conceder juros mais baixos a quem está em dia com contas e financiamentos. "Para os bancos, o cadastro traria mais segurança contra a inadimplência por meio da diminuição do risco na concessão do crédito", explica a advogada Marli Aparecida Sampaio, ex-diretora do Procon-SP e presidente da entidade SOS Consumidor.


Comércio. Segundo ela, os lojistas também eram grandes interessados. A advogada afirma que, hoje, para se prevenir, muitos comerciantes que financiam as vendas acabam comprando, de maneira informal, dados que traçam os perfis dos consumidores. "Para eles, o cadastro representaria uma grande economia."


O chefe do Departamento de Economia da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas, afirma que o cadastro tornará mais democrático o acesso a informações que facilitam a concessão de crédito. "Os grandes bancos já têm uma base de dados bastante sofisticada, mas o comércio e as pequenas instituições financeiras, não." / COLABOROU AIANA FREITAS

 

CRONOLOGIA


Anos de discussões

 

Começo da década


Início das discussões


O governo começa a falar sobre a criação de um cadastro positivo no começo da década. Os ministérios da Justiça e da Fazenda debatem o tema com os órgãos de defesa do consumidor. Pelos menos dois projetos tramitam no Congresso Nacional.


Março de 2007


Críticas


O Senado envia para a Câmara dos Deputados o Projeto de Lei n.º 263, de 2004 (n.º 405/07 na Câmara dos Deputados), que prevê a criação do cadastro. O projeto é criticado por órgãos como Procon, Idec e Proteste porque altera o Código de Defesa do Consumidor.


Maio de 2009


Aprovação na Câmara


Depois de muitas alterações, o PL 405/07 é aprovado na Câmara dos Deputados. O texto prevê, entre outras coisas, que os consumidores precisarão autorizar a inclusão de seus dados na lista. Por conta das mudanças, o texto segue de volta para o Senado, para nova avaliação.


01/12/2010


Aprovação no Senado


O projeto é aprovado no Senado e segue, então, para sanção presidencial.


31/12/2010


Veto presidencial


O presidente Lula veta o projeto, mas edita Medida Provisória para regulamentar o cadastro positivo.


Extraído de FECOMERCIODF
 

 

Notícias

Pendência de filial impede certidão negativa em nome da empresa

26/12/2011 - 09h26 DECISÃO Pendência de filial impede certidão negativa em nome da empresa   É indevido expedir Certidão Negativa de Débito (CDN) em nome de pessoa jurídica com referência apenas a negócios relacionados a uma das filiais da empresa, quando há pendências dessa mesma...

Homossexual é impedido de batizar afilhada

Padre impede batizado ao descobrir que padrinho, casado no civil, é homossexual Um padre da paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Huelma, no sul da Espanha, impediu a celebração de um batizado quando descobriu que o padrinho era gay. A família levará o caso aos tribunais. O escolhido...

Uso de drogas para consumo próprio é tema de repercussão geral

Quinta-feira, 22 de dezembro de 2011 Porte de droga para consumo próprio é tema de repercussão geral O Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu, por meio do Plenário Virtual, a existência de repercussão geral na questão em debate no recurso sobre a constitucionalidade de dispositivo da Lei...

STJ mantém decisão sobre prescrição em seguro de vida

23/12/2011 - 09h20 DECISÃO Seção impõe limite às reclamações e mantém decisão de turma recursal sobre prescrição em seguro de vida   A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) não atendeu a reclamação ajuizada por beneficiários de contrato de seguro de vida em grupo e acabou...

Quem deve decidir sobre vida conjugal é o próprio casal e não o Estado

Emenda do divórcio ajuda a preservar o casamento Por Rodrigo da Cunha Pereira Os dados do IBGE divulgados em 30 de novembro de 2011 de que o ano de 2010 foi recorde na taxa de divórcios corre o risco de reforçar a descrença em uma conjugalidade duradoura e induzir a uma leitura equivocada de...

Polêmica em torno dos bens comuns

Viúvo pode não ter mais direito a metade dos bens Qua, 21 de Dezembro de 2011 07:08 Para autora, viúvo receber mais do que a metade dos bens comuns configuraria "enriquecimento indevido". A Câmara analisa proposta segundo a qual, em caso de falecimento de pessoa casada em regime de comunhão...