Cejusc usa método da constelação familiar e evita divórcio

Sessão de constelação evita divórcio em Fórum de Sorriso, no Mato Grosso. Crédito: Divulgação/TJMT

Cejusc de Sorriso usa método da constelação familiar e evita divórcio

08/10/2015 - 15h21

O Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) da Comarca de Sorriso (MT) realizou a primeira sessão de constelação familiar com resultado exitoso. A acadêmica J.D.T.D., 31 anos, havia ingressado na Justiça com um pedido de divórcio. Durante a audiência, os conciliadores utilizaram a técnica da constelação e o casal acabou retomando a união de 15 anos.

A constelação familiar é uma nova ferramenta que começou a ser utilizada pela Comarca de Sorriso nas audiências de conciliação e mediação feitas na unidade judiciária. O método, de uso recente dentro do cenário jurídico, faz uma abordagem sistêmica, com indivíduos ou um grupo que unidos para formar um inconsciente coletivo e solucionar emaranhados de relacionamentos que podem levar ao fim uma demanda jurídica.

Durante a sessão, os envolvidos têm a oportunidade de enxergar de fora a situação que os aflige. E foi exatamente isso que aconteceu com J.D.. “Eu nunca tinha ouvido falar desta técnica, mas achei muito interessante. Durante a sessão, pude perceber que nós brigamos por bobeira, besteiras. Na hora da discussão, ficamos com raiva um do outro, com ódio no coração, por coisas que não são graves. Isso eu consegui ver muito bem”, relatou.

Nova chance - J.D. conta que o casal percebeu que grande parte das discussões que eles têm é ocasionada por fatores externos, por discussões provocadas por interferência familiar. “Isso ficou bem claro durante a constelação. A gente pode ver isso de fora. Percebemos também que ainda nos gostamos e que brigamos por coisas tolas. Decidimos tentar novamente, resolvemos dar uma nova chance a nós, ao nosso casamento, a nossa família e aos nossos filhos”, disse.

A acadêmica conta que ficou surpresa com a técnica. “Nunca pensei que tinha isso na Justiça. Achei que ia participar de uma audiência normal e que ia sair de lá com o divórcio. Nunca pensei em uma possibilidade assim. Muitos casais pedem a separação por nada, são coisas pequenas que vão se acumulando. Eu acho que todos deveriam passar por essa experiência, que de fato me surpreendeu”, declarou.

Quem também aprovou a técnica foi o marido de J.D, o comerciante S.D., 38 anos. “Eu nunca imaginava encontrar isso na Justiça. Aliás, nem acreditava nesse tipo de coisa. Achei que iriam falar sobre a importância do casamento, da família, mas nunca pensei que seria uma abordagem tão profunda. Minha esposa tem um irmão desaparecido e durante a sessão vimos que isso também interfere em nosso relacionamento. Isso me surpreendeu muito. Fiquei realmente impressionado. Percebi que coisas do passado, da família, que já aconteceram, influenciam diretamente na nossa vida. Eu aprovei a técnica e gostaria de participar de outra sessão dessas”, admitiu.

Técnica - A decisão de trazer esta técnica para dentro do Cejusc surgiu após a realização da palestra “Constelações Sistêmicas Familiares na Mediação”, realizada em 11 de setembro no fórum da comarca. A palestra, realizada pelo Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec) e pelo Cejusc de Sorriso, foi realizada para servidores, mediadores e conciliadores do Cejusc e ministrada pela consteladora sistêmica familiar e organizacional, Neiva Klug.

De acordo com ela, o método abrange quatro áreas: familiar, empresarial, escolar e, agora, jurídica. “Durante o processo de constelação, o mediador, chamado de constelador, faz observações empíricas, fundamentadas em diversas formas de psicoterapia familiar e dos padrões de comportamento que se repetem nas famílias e grupos familiares ao longo de gerações”, explicou.

O juiz coordenador do Cejusc de Sorriso, Anderson Candiotto, ressalta que “o Poder Judiciário deve lançar mão de toda e qualquer forma lícita e adequada para a solução de conflitos de interesses, inclusive metodologia de constelação sistêmica, sempre focado na humanização do acesso ao sistema judicial, propiciando ambiente favorável e profícuo à mediação como instrumento de afirmação da dignidade da pessoa humana".

Gestora judiciária do Cejusc, Rita de Cácia Figueiredo Medeiros diz que se sente enaltecida em saber que o Judiciário está proporcionando mais uma ferramenta “às pessoas que nos procuram para resolver seus conflitos”, pois na constelação se pode trabalhar todos os tipos de dificuldades em relacionamentos, perdas (lutos), comportamentos destrutivos, relações com trabalho e dinheiro. “Fiquei extremamente feliz em saber que na primeira sessão já tivemos ótimos resultados”, disse.

Onde começou - A constelação familiar é um método psicoterapêutico desenvolvido pelo filósofo e psicoterapeuta alemão Bert Hellinger a partir de psicanálise. Ele criou um método ou técnica de acessar o inconsciente pessoal e coletivo por meio de procedimentos em grupos terapêuticos. Deu-lhe o nome de constelação familiar (desde 1980), depois de movimentos da alma e agora o chama de “Movimento do Espírito – Hellinger Science – uma Ciência dos Relacionamentos”, junto com Sophie Hellinger.

Há mais de um milhão de exemplares de seus livros editados pelo mundo. Ele esteve no Brasil pela primeira vez em 1998. Realizou seminários de uma semana em Goiânia (2006) e em Lindóia (SP) em 2008 e 2009. Seus livros são filosóficos e a consciência é seu tema para os ensinamentos. Bert denominou também que seu método é fenomenológico e que não se trata de interpretação das conclusões, mas de “ver” algo acontecendo.

Por meio de uma frase-tema e um mínimo de informação sobre o cliente, a condução do trabalho desencadeia no ambiente do grupo coisas extraordinárias. Na constelação, o grupo é conectado a favor da “alma” do cliente. Os temas conflito revelam no desenrolar da constelação aprendizados que servem à atuação de profissionais das mais diversas áreas, principalmente médicos, terapeutas, advogados de família e juízes.

Fonte: TJMT
Extraído de CNJ

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