Tecnologia e conscientização são armas contra Aedes aegypti, apontam especialistas
Ana Amélia, presidente da CRA e Wellington Fagundes, presidente da Comissão Senado do Futuro presidiram a audiência pública conjunta Geraldo Magela/Agência Senado
Tecnologia e conscientização são armas contra Aedes aegypti, apontam especialistas
Da Redação | 18/02/2016, 12h27
Há armas disponíveis na batalha contra o Aedes aegypti, mas investir em mais pesquisa para ganhar a luta é essencial. Essas são algumas das conclusões apresentadas por especialistas e senadores durante audiência pública promovida nesta quinta-feira (18) pelas comissões de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) e Senado do Futuro (CSF). Para o senador Wellington Fagundes (PR-MT), que propôs o debate, o país está diante do maior desafio da saúde pública nas últimas décadas.
a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Rose Monnerat relatou experimentos com bioinseticidas Geraldo Magela/Agência Senado
Os debatedores apontaram que bioinseticidas; mosquitos geneticamente modificados e bactérias que infectam insetos são algumas das armas disponíveis no mercado para combater o mosquito. Mas, segundo eles, para contar com essa artilharia em seu arsenal é preciso que o Brasil invista em pesquisa e estimule parcerias entre universidades, instituições de pesquisa e empresas. Também é fundamental a continuidade dos métodos tradicionais de combate ao inseto e mais ainda: a promoção permanente de ações e campanhas contra o mosquito transmissor da dengue, zika, chicungunha.
Waldemir Moka participou da audiência e questionou a falta de integração de esforços de pesquisa e conscientização da população Geraldo Magela/Agência Senado
O presidente da Comissão Senado do Futuro e outros participantes do debate, como a presidente da CRA, senadora Ana Amélia (PP-RS), criticaram o relaxamento de medidas de contenção do mosquito nos últimos anos, o que teria levado à multiplicação de casos de dengue. Problemas de saneamento básico também foram levantados:
— Precisamos de uma política constante não só hoje, mas de médio e longo prazo de combate ao mosquito — disse Wellington.
Tecnologias
Durante a audiência, a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Rose Monnerat apresentou o Inova-Bti, uma nova geração de bioinseticidas. De acordo com ela, o produto é capaz de matar as larvas do mosquito Aedes aegypti – transmissor de dengue, febre chicungunha e zika - sem prejudicar a saúde das pessoas e dos animais domésticos. Todos os testes laboratoriais e de eficácia já foram concluídos pela Embrapa, mas o produto precisa ainda ser registrado junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de ser produzido em larga escala.
Este é o segundo inseticida biológico desenvolvido pela Embrapa com o objetivo de combater as larvas do mosquito. Desde 2005 está no mercado o Bt-horus - feito em parceria com a empresa Bthek Biotecnologia. Segundo Rose Monnerat, ambos os produtos são eficazes contra o mosquito.
O Bt-horus foi usado pela primeira vez em 2007 em São Sebastião, no Distrito Federal, em uma campanha que uniu a Embrapa, o governo distrital e a população local no combate ao mosquito transmissor da dengue.
Os resultados de acordo com a pesquisadora foram excelentes: o índice de infestação na região, que era de 4% caiu para menos de 1%, considerado aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Ela enfatizou, contudo, que o produto em si não resolve o problema: É preciso engajar a população no combate ao vetor das doenças:
— A vantagem do produto é que é específico para matar a larva do mosquito. Ele tenta equilibrar uma praga que está desequilibrada, mas não é só o produto. É preciso trazer a população para perto. Fazer campanhas — apontou.
Bergmann Morais Ribeiro, pesquisador da Universidade de Brasília, defendeu o uso de mosquito transgênico e de uma bactéria como armas contra o Zika vírus Geraldo Magela/Agência Senado
Esforço conjunto
Para João Manuel Cabral, chefe-geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, a audiência pública promovida pelo Senado deixa claro que ferramentas contra o mosquito transmissor da zika existem, mas falta uma conjugação de esforços de forma coordenada.
— Nós temos as ferramentas e podemos desenvolvê-las e integrá-las de forma inteligente para obter o resultado imediato no controle dos vetores. Mas o grande sucesso que foi a experiência em São Sebastião foi devido ao envolvimento da população — avaliou.
Várias frentes
Para Bergmann Morais Ribeiro, pesquisador da Universidade de Brasília, é preciso atacar o mosquito em várias frentes. Além do uso de bioinseticidas, ele defendeu o uso de mosquito transgênico e de uma bactéria como armas contra o zika.
Ele mencionou o sucesso de testes com o mosquito transgênico, tecnologia da empresa britânica Oxitec. A fêmea fecundada pelo inseto geneticamente modificado produz um ovo infértil. A técnica teria conseguido reduzir em mais de 80% a quantidade de larvas do mosquito Aedes aegypti espalhadas por um bairro de Piracicaba (SP). Outros testes já foram feitos no Brasil e no mundo.
O uso de uma bactéria - Wolbachia - também foi exaltado por Ribeiro. Essa técnica faz com que ovos de mosquitos fêmeas infectados não choquem. Mas é preciso dinheiro para desenvolver as tecnologias:
— As várias balas de prata vão aparecer e você pode atacar em várias frentes. Mas precisamos de apoio, de editais competitivos e direcionados para trabalhar com Aedes — argumentou.
O Diretor-Presidente do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), Florindo Dalberto, elogiou as iniciativas e defendeu o estímulo a parcerias entre instituições públicas de pesquisa, empresas e setor produtivo no combate ao mosquito.
Agência Senado