Especialistas defendem controle da entrada de capitais especulativos

Especialistas defendem controle da entrada de capitais especulativos para conter valorização do real

03/03/2012 - 15h28
Economia
Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Mais recente tentativa do Brasil em lidar com a chamada “guerra cambial”, o reajuste do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) cobrado na entrada de capitais estrangeiros é considerado paliativo por diversos economistas. Para professores de economia ouvidos pela Agência Brasil, o controle direto sobre a entrada de capitais especulativos no país seria a melhor ação para conter a valorização do real.

Os especialistas divergem em relação ao momento em que a medida deveria ter se iniciado. Eles, no entanto, ressaltam que o controle de capitais é mais eficaz do que a redução dos juros ou a taxação de operações cambiais para que o Brasil possa fazer frente aos países desenvolvidos, que, na avaliação do governo brasileiro, ameaçam a competitividade dos países emergentes com medidas de política monetária.

Nos últimos dois anos, bancos centrais de economias avançadas têm injetado dinheiro no mercado para combater a crise global. O exemplo mais recente foi a liberação de 529 bilhões de euros pelo Banco Central Europeu (BCE), que emprestou a quantia a 800 bancos do continente com juros próximos de zero. Foi a segunda operação em pouco mais de dois meses. Em dezembro de 2011, o BCE havia injetado mais 489 bilhões de euros.

Essas ações estimulam as economias locais, mas resultam na desvalorização artificial das moedas dos países desenvolvidos. Os países emergentes veem a cotação do dólar e do euro caírem e têm as exportações cada vez mais prejudicadas, enquanto as importações ganham incentivo.

Professor titular de economia internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Reinaldo Gonçalves acredita que o controle de capitais é a solução mais eficiente para conter a valorização do real. “Do mesmo jeito que o único remédio para a obesidade é fechar a boca, a única medida eficaz para conter a valorização do real é o governo barrar a entrada de capital especulativo”, diz.

Gonçalves defende a proibição para estrangeiros comprarem ações na Bolsa de Valores no mercado secundário (quando os papéis já foram emitidos pelas empresas e apenas trocam de mãos) e adquirirem títulos públicos. Ele, no entanto, admite que não há condições políticas para promover essas medidas. “O governo brasileiro é muito comprometido com o mercado financeiro. Dificilmente, essas iniciativas iriam para frente”, avalia.

André Nassif, professor de economia internacional da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Fundação Getulio Vargas (FGV), também apoia o controle de capitais estrangeiros que entram no país, mas diz que o governo brasileiro perdeu o momento certo de se contrapor à guerra cambial. “Agora é tarde. O Brasil não pode fazer nada porque precisa desses capitais para financiar o déficit em transações correntes”, declara.

As transações correntes representam a soma do saldo da balança comercial, das importações e exportações de serviços e as remessas de lucros, juros e dividendos ao exterior. Em janeiro, o déficit acumulado em 12 meses atingiu US$ 54,1 bilhões (2,17% do Produto Interno Bruto). Para financiar esse rombo, o país depende da entrada de capitais financeiros.

Segundo Nassif, o governo deveria ter restringido o ingresso de capital estrangeiro antes de o real começar a se sobrevalorizar, em 2004. “A equipe econômica teve uma nova oportunidade no início de 2010, quando o real se desvalorizou [depois da quebra do Lehman Brothers]. Agora, o Brasil terá de esperar a próxima crise para o dólar subir e o governo poder limitar a entrada de capital.”

 

Edição: Lana Cristina
Agência Brasil

Notícias

É válida escuta autorizada para uma operação e utilizada também em outra

24/02/2011 - 10h16 DECISÃO É válida escuta autorizada para uma operação e utilizada também em outra Interceptações telefônicas autorizadas em diferentes operações da Polícia Federal não podem ser consideradas ilegais. Essa foi a decisão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao...

Estatuto da família

  Deveres do casamento são convertidos em recomendações Por Regina Beatriz Tavares da Silva   Foi aprovado em 15 de dezembro de 2010, pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, um projeto de lei intitulado Estatuto das Famílias (PL 674/2007 e...

Casal gay ganha guarda provisória de criança

Extraído de JusBrasil Casal gay ganha guarda de menino no RGS Extraído de: Associação do Ministério Público de Minas Gerais - 1 hora atrás Uma ação do Ministério Público de Pelotas, que propõe a adoção de um menino de quatro anos por um casal gay, foi acolhida ontem pela juíza substituta da Vara...

Mais uma revisão polêmica na Lei do Inquilibato

Mais uma revisão polêmica na Lei do Inquilibato A primeira atualização da Lei do Inquilinato (8.245/91) acabou de completar um ano com grande saldo positivo, evidenciado principalmente pela notável queda nas ações judiciais por falta de pagamento do aluguel. (Outro efeito esperado era a redução...

Recebimento do DPVAT exige efetivo envolvimento do veículo em acidente

24/02/2011 - 08h08 DECISÃO Recebimento do DPVAT exige efetivo envolvimento do veículo em acidente É indevida a indenização decorrente do seguro de danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, o DPVAT, se o acidente ocorreu sem o envolvimento direto do veículo. A decisão é da...

Função delegada

  Vistoria veicular por entidade privada não é ilegal Por Paulo Euclides Marques   A vistoria de veículos terrestres é atividade regulada pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran), em atendimento ao disposto nos artigos 22, inciso III, e artigos 130 e 131 do Código de Trânsito...