Especialistas defendem política pública para melhorar a qualidade de vida de pacientes terminais

Cuidados paliativos para diminuir dor de pacientes terminais deveriam virar política pública, dizem especialistas

16/09/2012 - 15h23
Saúde
Aline Leal
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Especialistas que lidam no cotidiano com a iminência da morte defendem que o governo desenvolva uma política pública para melhorar a qualidade de vida de pacientes terminais. De acordo com a diretora da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, Dalva Yukie Matsumoto, a dor é sintoma predominante nos pacientes terminais no Brasil e falta formação para amenizá-la.

“A grande maioria dos médicos no Brasil não tem formação para tratar de dor, não sabe prescrever uma morfina, um opióide [substâncias naturais ou sintéticas derivadas do ópio] de forma adequada. Existe um tabu por acharem que morfina é para quem está morrendo. O mito é reforçado pelo mau uso. Esse é um grande desafio para gente [médicos paliativistas]”, disse Dalva, que coordena a Hospedaria de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Público de São Paulo.

Pesquisa realizada pela consultoria Economist Intelligence Unit e publicada pela revista inglesa The Economist, em 2010, coloca o Brasil em 38º lugar em um ranking de 40 países quando o assunto é qualidade de morte. O país fica à frente apenas de Uganda e da Índia. Esse dado indica que o brasileiro em estado terminal ainda sofre muito no seu processo de morte.

De acordo com Dalva, essa abordagem, que inclui a melhoria da qualidade de vida para os pacientes, é discutida há 60 anos no Reino Unido, país que o ocupa primeiro lugar no ranking. No Brasil, o tema é discutido há cerca de 12 anos.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a área de cuidados paliativos é considerada uma abordagem que serve para promover qualidade de vida para pacientes que tenham alguma doença que o ameace de morte. No Brasil, a área ainda está muito ligada a pacientes terminais, principalmente com câncer. No entanto, para a OMS, essa área não deve se restringir apenas a doentes terminais, mas também a pessoas que recebem diagnóstico de doenças crônicas e, até, para pacientes vítimas de acidentes.

Os cuidados paliativos devem envolver uma equipe multiprofissional formada por médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais que tratam das dores físicas do paciente e também das dores emocionais por estarem tão perto da morte. A abordagem também se estende à família do enfermo para que todo o processo seja aceito com a maior naturalidade possível e com o mínimo de sofrimento.

“Tudo isso tem que se estender para a família, entender que quando alguém adoece todo o núcleo familiar adoece junto e, se eu não cuido dessa família, que também adoece não só emocionalmente, mas às vezes fisicamente, eu não estou oferecendo esse atendimento global efetivo e extensivo para todos os componentes para esse núcleo familiar e afetivo”, disse Hélio Bergo, chefe do Núcleo de Cuidados Paliativos da Secretaria de Saúde do Distrito Federal.

“Uma vez que há cuidados paliativos, a qualidade de morte melhora sensivelmente. Morrer, nós vamos morrer de qualquer jeito. Morrer de uma doença crônica em sofrimento é algo triste, inadmissível. Os cuidados paliativo cumprem essa missão de melhorar a qualidade de morte”, disse Bergo.

 

Edição: Fábio Massalli

Agência Brasil

 

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Cuidado com a família é essencial para morte tranquila

16/09/2012 - 15h37
Saúde
Aline Leal
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Rosana Castro tem 24 anos e há dois meses acompanha, seis dias por semana, seu marido, Aparecido, de 28 anos, na Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital de Apoio do Distrito Federal. Ele tem câncer e os médicos informaram ao casal que não há mais procedimentos a serem realizados para a cura. Receber o encaminhamento para a unidade, vista como o último estágio antes da morte, foi uma notícia difícil para Rosana.

“No outro hospital entendi que ele não tinha mais tratamento. Só quando chegamos aqui entendi que a gente vinha para aliviar o sofrimento dele”, diz Rosana, que no começo não aceitou muito a notícia por considerar que seu marido é um homem jovem, mas, depois de muita conversa com os profissionais, foi se fortalecendo.

“Aqui tenho visto coisas que jamais pensei que veria com calma. Agora eu aceito mais. O que eu posso fazer eu faço. Todo mundo junto [equipe da enfermaria], a gente consegue passar por essa fase. Aqui é tão aconchegante que a gente se sente em casa, não parece hospital”.

Para a médica Anelise Pulschen, coordenadora da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital de Apoio do Distrito Federal, este trabalho deve ser estendido à família porque ela também passa pelas fases de negação, barganha, raiva, depressão e aceitação pelas quais passa um doente terminal.

“Nós como equipe podemos ser facilitadores desse processo para que eles possam sair e entrar em cada fase dessas e chegar na aceitação, que é a esperada por todos nós. Aceitação plena, e não apenas resignação. Às vezes a família vive mais essas fases do que o paciente. Às vezes o paciente já está até em paz, tranquilo, mas a família ainda não. A partir do momento em que a família é acolhida, também é escutada, também recebem a permissão pra viver todas as fases”, disse a médica.

 

Edição: Fábio Massalli
Foto/Fonte: Agência Brasil

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