“Consequências tangíveis”

05/03/2012 - 21h38 - Comissões - Relações Exteriores

Crise na Europa pode aumentar dependência brasileira em relação à China, alertam especialistas

A crise econômica na União Europeia poderá aumentar a dependência brasileira em relação ao mercado da China, alertaram especialistas que participaram nesta segunda-feira (5) de audiência pública sobre o tema, promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). No entanto, apesar das dificuldades enfrentadas pelo Velho Continente, a Europa continua sendo a principal parceira do Brasil, como lembrou o embaixador da França em Brasília, Yves Saint-Geours.

No início da audiência, presidida pelo senador Fernando Collor (PTB-AL), o professor José Augusto Guilhon Albuquerque, do Centro de Estudos Avançados da Universidade de Campinas (Unicamp), previu que o principal impacto da crise europeia será a “perda de um mercado de qualidade” para a economia brasileira, considerada por ele cada vez mais concentrada em commodities.

– A diminuição da capacidade de importação dos Estados Unidos e da União Europeia aumenta desmesuradamente a nossa dependência em relação à China. O ideal para nós seria manter um equilíbrio entre Estados Unidos, Europa e Ásia – observou.

A possibilidade de uma maior dependência em relação à China também foi ressaltada pelo professor Creomar Lima Carvalho de Souza, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília. Esta seria, a seu ver, uma das “consequências tangíveis” da crise europeia, assim como o “congelamento” das negociações para um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Ele apontou também “consequências intangíveis”, por exemplo, um maior questionamento da Europa como referencial de um modelo de integração.

Mundo policêntrico

Antes de comentar a crise europeia, o professor Francisco Carlos Teixeira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, anunciou boas notícias recebidas pouco antes: o mundo crescerá 4% em 2012 e, em média, os países emergentes crescerão acima de 6%. Além disso, prosseguiu, o comércio mundial avançará 6,7%, apesar da crise europeia.

– Às vezes, impactados pela mídia e por nossa relação emocional com a Europa, perdemos a dimensão do mundo. Hoje existe uma globalização assimétrica que aponta para o crescimento. Temos uma novidade, um mundo policêntrico. Não precisamos mergulhar em pessimismo por causa das histórias dessa hoje pequena península da Eurásia – disse Teixeira.

Em resposta, logo a seguir, o embaixador Saint-Geours citou “fatos simples e indiscutíveis” a respeito da “pequena península da Eurásia”, como repetiu em tom irônico. A União Europeia, recordou, continua sendo o primeiro parceiro comercial do Brasil. Em 2011, citou o diplomata, o bloco foi responsável por 20,5% das importações brasileiras, contra 14,5% da China, e por 20,7% das exportações, contra 17,3% da China. O saldo positivo do Brasil no comércio com a Europa, concluiu, foi de US$ 6 bilhões.

– Ainda há muitos obstáculos a um acordo entre a União Europeia e o Mercosul, por divergência de interesses. Mas não podemos subestimar as nossas relações. Em 2012, uma vez mais, vamos ser o primeiro parceiro do Brasil – previu.

‘Tsunami financeiro’

Durante o debate, a senadora Ana Amélia (PP-RS) lamentou a demora em se alcançar um acordo entre o Mercosul, uma região “competitiva” a seu ver, e a Europa ainda “muito subsidiada”. A Europa, observou por sua vez o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), pode ser considerada a “maior experiência do processo civilizatório mundial”. Ele questionou, porém, se este não seria o momento para se buscar “um novo conceito de progresso”, que leve mais em conta o bem-estar humano e o meio ambiente.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) lembrou a preocupação manifestada no mesmo dia na Alemanha pela presidente Dilma Rousseff, em relação a um “tsunami financeiro” decorrente do grande fluxo de capitais de países ricos em direção a mercados emergentes. Em resposta, Yves Saint-Geours disse entender a preocupação de Dilma, mas observou que, neste caso, Europa e Brasil têm interesses “um pouco diferentes”.

– Dilma está preocupada com a crise na Europa. Se tivermos um credit crunch na Europa, não poderemos sair da crise. A proposta em andamento é a de irrigar a economia, para dar a ela a possibilidade de se desenvolver. Mas as taxas de juros no mundo não são as mesmas, e o Brasil é muito atrativo – afirmou.

Ao final da audiência, Fernando Collor observou que os atuais modelos econômicos não vêm obtendo os resultados esperados.

– Temos que repensar o futuro. Os atuais modelos estão exauridos, e o que está acontecendo com a Europa é algo trágico – lamentou.

 

Agência Senado

 

Notícias

Pela 1ª vez, uniões consensuais superam casamento civil e religioso

Pela 1ª vez, uniões consensuais superam casamento civil e religioso Censo 2022 revela que 51,3% da população tinha relação conjugal Bruno de Freitas Moura - Repórter da Agência Brasil Publicado em 05/11/2025 - 10:03 Brasília Origem da Imagem/Fonte: Agência Brasil  -  Certidão de...

STJ autoriza penhora de imóvel financiado para quitar dívida de condomínio

STJ autoriza penhora de imóvel financiado para quitar dívida de condomínio Alessandro Junqueira de Souza Peixoto A decisão do STJ muda o jogo: Agora, imóveis financiados também podem ser penhorados para pagar dívidas de condomínio. Entenda o que isso significa para síndicos e...

Neto poderá ter avós maternos reconhecidos como seus pais

Neto poderá ter avós maternos reconhecidos como seus pais Ele moveu ação para reconhecimento de paternidade e maternidade socioafetiva 29/10/2025 - Atualizado em 29/10/2025 A 4ª Câmara Cível Especializada do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) cassou uma sentença da Comarca de Diamantina e...

Georreferenciamento: novo prazo para 2029 gera alívio e controvérsia

Opinião Georreferenciamento: novo prazo para 2029 gera alívio e controvérsia Nassim Kassem Fares 27 de outubro de 2025, 19h35 O projeto e seu substitutivo, que estendeu a prorrogação para todos os imóveis rurais, tiveram como objetivo oferecer “uma solução legislativa viável, segura e proporcional...