Delegados poderão se tornar conciliadores

24/07/2014 - 16h08

MP e delegados divergem sobre conciliação em crimes de menor potencial ofensivo

Para desafogar a justiça, há quinze anos foram criados os juizados especiais cíveis e criminais dedicados a crimes de menor potencial ofensivo e litígios menos complexos. Mas, hoje, eles estão igualmente sobrecarregados. Com o objetivo de amenizar o problema, um projeto (PL 1028/11) em tramitação na Câmara dos Deputados prevê que os delegados possam se tornar conciliadores, promovendo acordos entre as partes e dispensando o inquérito e o processo.

O assunto enfrenta resistência do Ministério Público (MP). Em audiência pública na Comissão de Constituição de Justiça e de Cidadania, o procurador Marcelo Paranhos, representando a Procuradoria Geral da República, disse que não há nas delegacias a liberdade total necessária para garantir um acordo legítimo.

Gabriela Korossy/Câmara
MarceloParanhos-1028-11
Procurador Marcelo Paranhos: delegacias não são ambientes propícios ao diálogo, à concórdia.

"Delegacias de polícia não são, nem no Brasil nem em nenhum lugar do mundo, ambientes propícios ao diálogo, à concórdia, à uma atmosfera psíquica que enseje a aproximação necessária para formação de um acordo. Será que a instituição que estamos escolhendo é a melhor?”, questiona Paranhos. “Seguramente, investir em instituições mais vocacionadas para isso, como a Defensoria Pública, como a própria advocacia, me parece muito mais apropriado e muito mais natural."

Estigma
Já os delegados consideram essa visão um estigma que não representa a realidade da maioria das delegacias do País. O presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, Marcos Leôncio Ribeiro, defende o projeto como parte de um esforço maior para desafogar a Justiça e reduzir os litígios
.

Gabriela Korossy/Câmara
MarcosLeôncioRibeiro-1028-11
Delegado Marcos Leôncio: delegacia de polícia não pode ser confundida com cadeia.

"O mundo e o Brasil discutem a não judicialização. E por que privar a autoridade policial, o delegado de polícia, de dar a sua contribuição nessa não judicialização?”, se pergunta Marcos Ribeiro.

“A delegacia de polícia não pode ser confundida com cadeia, esse é o grande erro que este País comete: um terço da força de trabalho da polícia judiciária brasileira está encarregada de custódia de preso e escolta de preso, quando ali tinha que ser um centro de prestação de serviços ao cidadão, como um local para o exercício da sua cidadania", acrescenta o delegado

Parecer em agosto
O projeto, de autoria do deputado e delegado João Campos (PSDB-GO), já teve parecer favorável aprovado na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, onde foi relatado pelo também deputado e delegado Fernando Francischini (SD-PR).

O deputado e advogado José Mentor (PT-SP) é o relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania e prevê apresentação de seu parecer ainda no mês de agosto.

 

Reportagem – Lincoln Macário
Edição – Newton Araújo - Foto em destaque: Gabriela Korossy/Câmara

Agência Câmara Notícias

 

Notícias

Da percepção do salário no regime da comunhão parcial de bens

Da percepção do salário no regime da comunhão parcial de bens Pedro Linhares Della Nina O STJ, em 21/11/23, enfrentou questão jurídica sobre a percepção dos proventos (art. 1.659, VI, do Código Civil) ser ato particular do cônjuge. Porém, quando percebido, a remuneração integra a meação de...

Proposta de alteração no Código Civil não muda status jurídico dos animais

SERES COISIFICADOS Proposta de alteração no Código Civil não muda status jurídico dos animais José Higídio 26 de março de 2024, 8h51 De acordo com a proposta da relatoria-geral, “os animais, objetos de direito, são seres vivos sencientes e passíveis de proteção jurídica própria, em virtude da sua...