Projeto de depoimento especial é apresentado a integrantes do MP

Projeto de depoimento especial é apresentado a integrantes do MP

05/12/2012 - 08h15

O Grupo de Trabalho sobre Depoimento Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) participou de reunião, recentemente, com integrantes do Ministério Público, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Polícia Civil para uma apresentação do projeto intitulado “Atendimento não revitimizante de crianças e adolescentes vítimas de violência”, que implanta o chamado ‘depoimento especial’. A iniciativa – da Coordenadoria da Infância e Juventude do TJSP – foi implementada em junho de 2011 e contempla atualmente quatro comarcas do Estado: Guarulhos, Campinas, São Caetano do Sul e Atibaia.

A reunião aconteceu na Escola Paulista da Magistratura (EPM). Estiveram presentes o desembargador Carlos Vico Mañas, coordenador do Grupo de Trabalho e os juízes Richard Paulro Pae Kim, da Vara da Infância e Juventude de Campinas; Eduardo Rezende Melo, da 1ª Vara Criminal de Crimes contra a Criança e Adolescente e da Infância e Juventude de São Caetano do Sul; Breno Gimenes Cesca, da 1ª Vara Criminal de Atibaia e Antonio Maria Patiño Zorz, assessor da Presidência da Seção de Direito Criminal do TJSP. Um dos objetivos do encontro foi esclarecer tópicos inerentes ao projeto e a dar início a discussões, para que possa ser aprimorado e disseminado. Há previsão para que o projeto seja expandido para 24 comarcas.

O depoimento especial foi implantado pela primeira vez no Brasil em 2003, no Rio Grande do Sul. Inicialmente chamado de ‘depoimento sem dano’, o procedimento evita que crianças e adolescentes vítimas de violência (especialmente violência sexual) tenham que contar sua história repetidas vezes durante o itinerário que percorrem ao serem atendidas em função da ocorrência, pelos sistemas de saúde, segurança, serviço social e justiça.

O desembargador Vico Mañas afirmou que o TJSP deseja disseminar a prática. “Já temos algumas experiências consolidadas, basicamente em São Caetano do Sul e Atibaia. A implantação, no entanto, implica na adesão de profissionais de outas áreas”, disse o magistrado. Para ele, o mérito da iniciativa é multidisciplinaridade. “Nós, profissionais do Direito, somos muito presunçosos. A gente crê que se basta. Mas nunca recebi treinamento de como lidar com uma criança para causar-lhe mínimo dano. Contudo, obviamente, o projeto deve respeitar as garantias constitucionais. Não se pode abrir mão de conquistas seculares da humanidade”, enfatizou.

O juiz Eduardo Rezende Melo explicou a metodologia. Segundo ele, crianças e adolescentes vítimas de violência chegam a passar por oito instituições diferentes nas quais é solicitado que relatem sua história. “A criança sofre um traumatismo secundário decorrente de nosso modo de intervenção”, afirmou. Tal exposição pode fragilizar a vítima, dando-lhe a sensação de descrédito em relação a sua palavra. Em decorrência disso, pode interromper os relatos e acabar contribuindo para a absolvição do ofensor.

Para implantar a sistemática nos fóruns, é necessário um local agradável onde a criança será escutada. O profissional que a ouve deve ser um psicólogo treinado, que contará com o apoio, se necessário, de um assistente social. Os equipamentos utilizados são televisão, filmadora, aparelhagem para captação de áudio e telefone. Isso permite a interação entre o profissional que realiza a escuta e os envolvidos com a condução do processo: juiz, promotor e defensores. O depoimento é gravado em DVD e este somente é copiado se houver necessidade de prova similar em outro processo.

Outro eixo do projeto é o desenvolvimento de uma forma de trabalho integrada entre as diversas instâncias de atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência. Uma estratégia para minimizar o número de escutas foi a criação de um fluxo interinstitucional de atendimento: um documento único – que em breve deve ser digital – de caracterização da violência é preenchido pela instituição que atender a criança ou adolescente pela primeira vez.

As instituições que participam do projeto entenderam que preferencialmente quem deve iniciar o atendimento é o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), por meio do Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (Paefi). Preenchido o documento, ele circula para as outras instituições, que deverão assiná-lo. Isso evita a circulação da vítima e o número total de escutas cai para duas: essa primeira e a que se dá no âmbito do Poder Judiciário.

O juiz Eduardo Melo conta que, em São Caetano do Sul, o número de casos aumentou depois da implantação do projeto. São dois ou três casos novos por semana. “Por ter uma rede sólida e ativa de atendimento à criança e adolescente e delegados sensíveis à causa, as pessoas se sentem mais confortáveis para denunciar”, disse.

Participaram da reunião o procurador de Justiça Ruy Valente da Silva e as promotoras de Justiça Mariana Aparício de Freitas Guimarães, Fernanda Gil da Silva Lopes, Flávia Cristina Merlini e Maria Gabriela Prado Manssur, além do promotor José Basso Júnior. Também estiveram presentes os integrantes da OAB Paula Abicham, Marco Antonio Araújo Junior e Roberto Ribeiro Junior e a delegada de polícia Celi Paulino Carlota.


Do TJSP

Foto/Fonte: Extraído de CNJ

Notícias

STJ valida filiação socioafetiva post mortem sem manifestação expressa

Família STJ valida filiação socioafetiva post mortem sem manifestação expressa 3ª turma reconheceu vínculo de filha criada desde a infância, ainda que falecidos não tenham formalizado adoção. Da Redação terça-feira, 7 de outubro de 2025 Atualizado às 18:55 Por unanimidade, 3ª turma do STJ...

Renúncia à herança e sua extensão a bens descobertos posteriormente

Opinião Renúncia à herança e sua extensão a bens descobertos posteriormente Mathias Menna Barreto Monclaro 7 de outubro de 2025, 7h01 Não se deixa de reconhecer que, em certos contextos, a rigidez da solução pode suscitar debates sob a ótica da justiça material, sobretudo em heranças complexas, em...

Juiz nega penhora de imóveis rurais usados para subsistência

Proteção Juiz nega penhora de imóveis rurais usados para subsistência Magistrado reconheceu que a família do devedor explora diretamente a terra para sua subsistência e que os imóveis se enquadram como pequena propriedade rural. Da Redação domingo, 5 de outubro de 2025 Atualizado em 3 de outubro de...

Assinatura eletrônica e digital: entre prática judicial e debate acadêmico

Opinião Assinatura eletrônica e digital: entre prática judicial e debate acadêmico Cícero Alisson Bezerra Barros 2 de outubro de 2025, 18h25 A confusão entre os termos reside justamente no fato de a assinatura digital ser uma modalidade específica de assinatura eletrônica, mas dotada de requisitos...