Saída para indústria automobilística divide sindicatos e montadoras

16/10/2012 - 14h25 Artigo - Atualizado em 16/10/2012 - 14h27

Saída para indústria automobilística divide sindicatos e montadoras

Iara Guimarães Altafin

Aumentar a competitividade da indústria automobilística no Brasil requer obrigatoriamente cortes de salários e de benefícios trabalhistas? A questão dominou o debate sobre as recentes demissões nas montadoras de veículos do país, durante audiência pública realizada na manhã desta terça-feira (16) na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH).

Representantes das montadoras e dos sindicatos confrontaram diferentes visões sobre as saídas para os problemas enfrentados pelo setor, apesar de muitos falarem em conciliação. Ao representante do Ministério de Trabalho e Emprego coube fazer ponderações sobre os argumentos dos dois grupos.

Leilão de direitos

Para José Maria de Almeida, membro da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas, tem ocorrido “um leilão dos direitos dos trabalhadores” quando uma montadora se transfere para outra região do país, buscando produzir um carro mais barato e mais competitivo.

Ele afirmou que os trabalhadores da nova unidade são obrigados a aceitar condições piores que as praticadas nas outras fábricas, por imposição da empresa e como condição para investir na nova região, sob o argumento de que seriam variações de mercado.

– A lei de mercado não pode virar a lei das nossas vidas – disse, ao condenar o rebaixamento dos salários em nome da maior competitividade da indústria brasileira.

Na avaliação do sindicalista, não há liberdade de negociação para os trabalhadores sob ameaça da empresa de corte de emprego. Para ele, o governo deve intervir e suspender os incentivos fiscais quando a montadora não cumprir com os compromissos sociais.

Participação na economia

Os incentivos governamentais se justificariam, na avaliação de Adauto Duarte, presidente da Comissão de Relações de Produção da Anfavea, por ser o setor automotivo responsável por 22% do PIB industrial e 5% do PIB do país.

Ele afirma que o governo tem conseguido atingir os objetivos propostos, uma vez que a produção industrial caiu, mas o nível global de emprego cresceu. No entanto, ele alerta para os riscos de perda de mercado.

– Se um carro fabricado lá fora chega mais barato aqui, o consumidor vai preferir esse carro e, com isso, o Brasil perde competitividade – disse.

Também João Alceu da Cunha, diretor da Renault do Brasil, e Carlos Ogliari, dirigente da Volvo, defenderam a ampliação da competitividade e se mostraram confiantes na capacidade do setor em superar a crise.

– Acreditamos que nosso diferencial são as nossas pessoas. Temos desafios enormes de competitividade, mas acreditamos na nossa capacidade de superação – frisou Ogliari.

de acordo com Marcos Alves de Souza, diretor da Mercedes-Benz do Brasil, a gestão da crise na economia tem sido possível devido à maturidade das relações entre as unidades industriais e sindicatos.

– Com conciliação e equilíbrio, adotamos medidas que têm nos ajudado a navegar nesse mar turbulento. E reconhecemos esforço do governo federal, que tem permitido chegarmos ao entendimento e passarmos pela crise – disse.

Apesar de também apontar o diálogo como saída para a crise, Luiz Moan, diretor da General Motors do Brasil, citou dificuldades na busca de solução para os problemas da montadora em São José dos Campos (SP). Segundo informou, a empresa tem excedente de pessoal em umas das fábricas da região e busca remodelar sua planta industrial para garantir a produção.

Incentivos

Representando o Ministério do Trabalho e Emprego, Mauro Rodrigues de Souza lembrou que o governo oferece incentivos, por meio da renúncia de tributos, e conta com a manutenção dos empregos e dos investimentos das empresas beneficiadas, essenciais para movimentar a economia.

Mauro Rodrigues ressaltou que a competitividade não pode ser obtida com prejuízos dos trabalhadores.

– Não podemos permitir que a competitividade seja obtida à custa de autofagia entre categorias – disse.

Ao opinar sobre a grande diferença de salários verificada nas mesmas empresas em diferentes regiões, ele disse não haver certeza de que a solução seja um contrato coletivo nacional. No entanto, defendeu a redução das disparidades de salários.

Na condução do debate, o presidente da CDH, Paulo Paim (PT-RS), destacou a importância do diálogo para busca de medidas que promovam a competitividade da indústria brasileira, sem comprometer direitos conquistados pelos trabalhadores.

 

Agência Senado

 

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