Rotatividade de trabalhadores de baixa renda pode afetar nova classe média

Rotatividade de trabalhadores de baixa renda pode afetar nova classe média

07/12/2011 - 6h13
Economia Nacional
Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Dados analisados pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República mostram que os trabalhadores formais com renda até dois salários mínimos (atualmente R$ 1.090) estão mais expostos à rotatividade no emprego do que o conjunto da força de trabalho no Brasil e do que outros de diferentes faixas salariais.

Conforme estudo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego), a taxa de rotatividade no Brasil em 2010 foi 40%, enquanto entre os trabalhadores com até dois salários mínimos foi 57%. A análise da SAE destaca que a rotatividade é causada principalmente pelos pedidos de dispensa dos próprios empregados.

“Essa população está sobrerrepresentada nas demissões a pedido, quem está nas faixas salariais maiores não está pedindo tanta demissão assim”, diz a economista Diana Grosner, da Secretaria de Ações Estratégicas da SAE. Ela lembra que há grande proporção de demitidos entre os trabalhadores de baixa renda.

Conforme a série do Caged analisada pela SAE, a participação dos trabalhadores de baixa renda no total de demissões a pedido cresceu de um terço, em meados de 1999, para quase 85% em 2010. Nesse período, aumentou em 16 milhões o número de trabalhadores que recebem até dois salários mínimos.

Grosner admite que a alta no pedido de demissões pode estar relacionada ao bom momento da economia em 2010. “A pessoa saía também porque achava que ia conseguir coisa melhor”, considera.

O fenômeno, no entanto, não deixa de preocupar o governo. “A entrada dessas pessoas no mercado formal foi um grande avanço, sem dúvida, mas agora está na hora de dar um segundo empurrão. A situação das pessoas precisa melhorar, elas precisam ter uma estabilidade no emprego”, avalia a economista.

A alta rotatividade pode colocar em risco a manutenção das pessoas na faixa acima da pobreza, notadamente o estrato emergente da chamada nova classe média (com renda familiar per capita acima de R$ 250 até R$ 1.000) que, em 11 anos, aumentou em 31 milhões de pessoas. “É quem está no limite de retornar à pobreza”, diz Alessandra Ninis, assessora técnica da Secretaria de Ações Estratégicas.

Para o ministro-chefe da SAE, Moreira Franco, a alta rotatividade conspira contra a ascensão social dos trabalhadores porque impede a capacitação e o aumento na remuneração. “Quem está trabalhando precisa se qualificar e sua qualificação é de interesse do próprio trabalhador, da empresa na qual trabalha e do governo”, escreveu em artigo publicado em um jornal carioca.

A falta de qualificação alimenta a alta rotatividade, acrescenta Diana Grosner. “São as pessoas que têm qualificação mais baixa. Para o mercado, é mais fácil trocar essa pessoa. É mais fácil perder uma pessoa que não tem qualificação do que perder uma pessoa qualificada”, ressalta.

Além dos riscos sociais, a possibilidade de estagnação ou eventual revés na ascensão dos trabalhadores de baixa renda pode trazer forte impacto econômico. Nos cálculos da SAE, a nova classe média representa 47% do consumo no país.

O governo instituiu uma comissão de intelectuais e pesquisadores para estudar o comportamento da nova classe média. Desde outubro, a SAE também discute com os ministério do Trabalho e Emprego, da Previdência Social e Fazenda medidas a serem adotadas em 2012 para incentivar a permanência dos trabalhadores no emprego.

 

Edição: Graça Adjuto

Agência Brasil

Notícias

Herança digital e o testamento como aliado

Herança digital e o testamento como aliado Thauane Prieto Rocha A herança digital ganha destaque como parte essencial do testamento, permitindo que o testador decida sobre bens e memórias digitais após a morte. sexta-feira, 25 de abril de 2025 Atualizado em 28 de abril de 2025 08:08 Ao realizar uma...

Análise crítica de estratégias de planejamento sucessório

Análise crítica de estratégias de planejamento sucessório Gabriel Vaccari Holding/Sucessão: Cuidado online! Artigo expõe riscos de soluções fáceis (procuração, S.A., 3 células). Evite armadilhas fiscais/legais. Leitura essencial para famílias e advogados. sexta-feira, 25 de abril de 2025 Atualizado...

Bens trazidos à colação não respondem pelas dívidas do falecido

Processo Familiar Bens trazidos à colação não respondem pelas dívidas do falecido Mário Luiz Delgado 20 de abril de 2025, 8h00 Os bens recebidos em antecipação da herança necessária (legítima), nos moldes do artigo 544 do CC [6], quando “conferidos” pelo herdeiro após a abertura da sucessão, NÃO...

10 informações jurídicas essenciais acerca do inventário

10 informações jurídicas essenciais acerca do inventário Amanda Fonseca Perrut No presente artigo, abordamos pontos cruciais sobre inventário, como prazo, multas e recolhimento de tributos, dentre outros. segunda-feira, 21 de abril de 2025 Atualizado em 17 de abril de 2025 14:23 De modo a auxiliar...

Partilha testamentária como meio eficaz de planejamento sucessório

Partilha testamentária como meio eficaz de planejamento sucessório Amanda Fonseca Perrut A indicação de bens específicos pelo testador a determinado herdeiro é possível e evita eventuais disputas sucessórias. quinta-feira, 17 de abril de 2025 Atualizado às 09:11 É juridicamente possível atribuir...