Espaço da tortura e do abuso

O sistema prisional brasileiro 20 anos depois da tragédia do Carandiru

15/04/2013 - 15h33

O sistema prisional brasileiro 20 anos depois da tragédia do Carandiru Continuamos tendo no Brasil, hoje, pequenos “carandirus” no que se refere ao desrespeito aos direitos humanos. A denúncia é do juiz Luciano Losekann, que coordena o Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas, do Conselho Nacional de Justiça (DMF/CNJ), em uma referência ao presídio de São Paulo onde morreram 111 presos em 1992 em massacre que está sendo julgado desde segunda-feira (15/4). Para Losekann, o sistema prisional brasileiro continua sendo o espaço da tortura e do abuso, e a solução dos problemas passa pelo incentivo à aplicação das penas alternativas. O magistrado está à frente dos mutirões carcerários organizados pelo CNJ, a exemplo do que ocorre no Rio Grande do Norte desde 2 de abril.

“Nós estamos em pleno século XXI. Esse é o tipo de prisão que nós queremos?”, questiona Losekann. Segundo o juiz, o sistema prisional brasileiro não consegue cumprir a função de ressocializar os condenados. “Eles saem com ódio e uma desesperança muito grande. Saem prontos para cometer novos delitos”, afirmou. O juiz conta que o interior dos presídios é dominado por facções criminosas que cooptam presos de pequena periculosidade e que é praticamente impossível resistir às cooptações. “Qualquer um de nós que fôssemos levados a cumprir pena em um presídio brasileiro fatalmente entraríamos para uma facção, até por uma questão de sobrevivência”, disse.

De acordo com o Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça (Depen/MJ), a população carcerária no País é de 550 mil presos, em uma estrutura que comportaria pouco mais de 300 mil detentos. O Brasil é o país com a quarta maior população carcerária do mundo. Fica atrás somente dos Estados Unidos da América, da China e da Rússia. Segundo o juiz do CNJ, recentemente o Presídio Central de Porto Alegre/RS foi denunciado perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos pelas péssimas condições nele encontradas, como esgoto a céu aberto, falta de lugar para os presos dormirem, falta de assistência médica, entre outros problemas. Com 4.100 presos e capacidade para 1.986 pessoas, é considerado o maior presídio da América Latina.

Como proposta de solução para parte dos problemas do sistema prisional brasileiro, Losekann defende que a aplicação da pena de prisão fique restrita às condenações por crimes mais graves. Para os crimes que prevejam apenas curta duração, o juiz recomenda a aplicação de penas alternativas. De acordo com ele, no ano passado, o CNJ, junto com outros órgãos envolvidos com a questão carcerária como o Ministério da Justiça e o Conselho Nacional do Ministério Público, participou da elaboração de um documento que propõe à presidenta da República, Dilma Rousseff, diversas ações de melhoria do sistema prisional.

Entre as propostas, Losekann destacou a que prevê a criação de centrais de penas alternativas nas Unidades Federativas, que seriam vinculadas ao Poder Executivo estadual. Psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais atuariam nessas centrais junto aos condenados de menor periculosidade, com o intuito de evitar que eles sejam encarcerados.

 

Paulo Henrique Zarat
Foto/Fonte: Agência de Notícias do CNJ

Notícias

Neto poderá ter avós maternos reconhecidos como seus pais

Neto poderá ter avós maternos reconhecidos como seus pais Ele moveu ação para reconhecimento de paternidade e maternidade socioafetiva 29/10/2025 - Atualizado em 29/10/2025 A 4ª Câmara Cível Especializada do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) cassou uma sentença da Comarca de Diamantina e...

Georreferenciamento: novo prazo para 2029 gera alívio e controvérsia

Opinião Georreferenciamento: novo prazo para 2029 gera alívio e controvérsia Nassim Kassem Fares 27 de outubro de 2025, 19h35 O projeto e seu substitutivo, que estendeu a prorrogação para todos os imóveis rurais, tiveram como objetivo oferecer “uma solução legislativa viável, segura e proporcional...