MP dos Portos: parlamentares criticam centralização da política portuária

06/03/2013 - 19h52

MP dos Portos: parlamentares criticam centralização da política portuária

Relator, no entanto, defende modelo de gestão proposto pelo governo.

A centralização no governo federal do planejamento de todo o sistema portuário brasileiro foi criticada por parlamentares de diversos partidos na comissão mista que analisa a Medida Provisória 595/12 (MP dos Portos). O colegiado realizou, nesta quarta-feira (6), audiência pública com representantes de federações sindicais.

A MP alterou o marco legal do setor portuário. De acordo com o texto, a Secretaria Especial de Portos (SEP), órgão vinculado à Presidência da República, será responsável pelo planejamento de todo o sistema. As companhias docas estaduais passarão a seguir as metas e diretrizes definidas pela SEP.

 
Dep. César Colnago (PSDB-ES)
Colnago: centralização vai na contramão do que tem sido feito por outros países.

A secretaria coordenará a Comissão Nacional das Autoridades nos Portos (Conaportos), que decidirá os parâmetros de desempenho para os portos, entre outras funções. O decreto que criou a Conaportos (7.861/12) foi publicado no mesmo dia da edição da MP 595 (6 de dezembro do ano passado).

Na opinião de parlamentares da comissão mista, a centralização vai na contramão da experiência internacional. “O mundo tem tentado aproximar os portos dos estados e, principalmente, das cidades. Todo um processo de gestão dos portos, inclusive de investimento e planejamento, tem de ter agora o aval de Brasília, para depois executar. Isso tem tudo para dar errado”, argumentou o deputado César Colnago (PSDB-ES).

O senador Blairo Maggi (PR-MT) também criticou a medida. Um dos maiores produtores de soja do mundo, Maggi opera um terminal privado no Amazonas para exportação do cereal. Segundo ele, a redação da MP vai burocratizar o setor portuário. “Vamos ficar parados esperando a decisão de um burocrata de Brasília”, comentou.

Conselhos
Maggi e Colnago defenderam a manutenção do status dos conselhos de autoridade portuária (CAPs), figura criada pela Lei de Modernização dos Portos (8.630/93) que foi mantida na MP 595, mas com poderes menores. Na lei, os CAPs atuavam como órgãos consultivos e normativos, constituído pelas entidades diretamente envolvidas na atividade portuária, regulamentando questões como tarifas portuárias, horário de funcionamento e zoneamento do porto. Já na MP, passaram a ter caráter apenas consultivo. Para a deputada Iriny Lopes (PT-ES), com o “esvaziamento do CAP, perde-se um espaço de articulação política”.

Alexandra Martins / Câmara dos Deputados
Audiência Pública para discutir sobre um novo marco regulatório para o setor portuário. Francisco José Nogueira (presidente da FETAPORT)
Nogueira: MP não menciona os guardas portuários.

A mesma opinião tem o presidente da Intersindical da Orla Portuária do Espírito Santo, José Adilson Pereira. Na avaliação dele, a centralização da política portuária em Brasília é um retrocesso. “O CAP definia toda uma política regional e fazia a relação democrática dos atores, minimizando os conflitos no porto e trazendo as demandas para o governo atuar”, afirmou. Ele disse também que o fortalecimento do papel da SEP significará o esvaziamento das companhias docas.

Poucos avanços
O relator da MP, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), contestou as críticas feitas ao modelo institucional proposto pelo governo. Segundo ele, o sistema anterior (Lei dos Portos) não gerou os benefícios esperados. “Nos últimos dez anos, o Brasil conseguiu licitar 11 portos, praticamente um por ano. Na minha opinião, é muito pouco para um país que depende tanto da logística e do transporte de carga. É preciso avançar com um novo modelo”, sustentou.

Trabalho temporário
Durante a audiência, os representantes das federações de trabalhadores criticaram ainda o dispositivo da MP que autoriza os operadores portuários a contratarem mão de obra temporária, situação proibida pela Lei 8.630/93. O receio é que os operadores priorizem a contratação de temporários, que teriam um custo menor, em detrimento dos trabalhadores avulsos, cuja situação trabalhista tem o aval do órgão gestor da mão de obra (Ogmo) local.

“A MP tem pontos positivos, mas precisa ser aprimorada, sob pena de desestruturar o que existe há 20 anos. Permitir o trabalho temporário é precarizar as relações de trabalho”, destacou o presidente da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Agenciamento Marítimo, Aquaviário e Operadores Portuários (Fetaport), Francisco José Nogueira. Ele alertou ainda para a situação dos guardas portuários – a atuação desses profissionais não é mencionada na MP dos Portos. Vários parlamentares afirmaram que essa situação precisa ser corrigida. “Não há clareza sobre por que a atividade não está na medida provisória. Será que é para privatizar?”, indagou o deputado Glauber Braga (PSB-RJ).

A comissão mista deve voltar a se reunir na próxima semana para ouvir empresários e exportadores.

 

Reportagem - Janary Júnior
Edição - Marcelo Oliveira

Foto em destaque/Fonte: Agência Câmara Notícias

 

Notícias

Pela 1ª vez, uniões consensuais superam casamento civil e religioso

Pela 1ª vez, uniões consensuais superam casamento civil e religioso Censo 2022 revela que 51,3% da população tinha relação conjugal Bruno de Freitas Moura - Repórter da Agência Brasil Publicado em 05/11/2025 - 10:03 Brasília Origem da Imagem/Fonte: Agência Brasil  -  Certidão de...

STJ autoriza penhora de imóvel financiado para quitar dívida de condomínio

STJ autoriza penhora de imóvel financiado para quitar dívida de condomínio Alessandro Junqueira de Souza Peixoto A decisão do STJ muda o jogo: Agora, imóveis financiados também podem ser penhorados para pagar dívidas de condomínio. Entenda o que isso significa para síndicos e...

Neto poderá ter avós maternos reconhecidos como seus pais

Neto poderá ter avós maternos reconhecidos como seus pais Ele moveu ação para reconhecimento de paternidade e maternidade socioafetiva 29/10/2025 - Atualizado em 29/10/2025 A 4ª Câmara Cível Especializada do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) cassou uma sentença da Comarca de Diamantina e...

Georreferenciamento: novo prazo para 2029 gera alívio e controvérsia

Opinião Georreferenciamento: novo prazo para 2029 gera alívio e controvérsia Nassim Kassem Fares 27 de outubro de 2025, 19h35 O projeto e seu substitutivo, que estendeu a prorrogação para todos os imóveis rurais, tiveram como objetivo oferecer “uma solução legislativa viável, segura e proporcional...