Sistema de cotas em universidades não prejudicará qualidade do ensino

10/09/2012 - 14h38 Comissões - Direitos Humanos - Atualizado em 10/09/2012 - 14h44

Para defensores das cotas em universidades, sistema não prejudicará qualidade do ensino

Anderson Vieira

Defensores da nova política de cotas para ingresso em universidades e escolas técnicas federais afirmaram, aos senadores da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), nesta segunda-feira (10), que a reserva de vagas não vai prejudicar a qualidade do ensino nem ferir a meritocracia, uma vez que os candidatos terão que obter a nota mínima do concurso seletivo para conseguir acesso às instituições.

A reserva de cotas voltou a ser debatida no Senado, a pedido do senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da comissão. Para os representantes de movimentos sociais que participaram da audiência, a recém-sancionada Lei 12.711/2012 será um instrumento de justiça social e combate ao racismo.

– A Lei de Cotas, sancionada no último dia 29 pela presidente Dilma Rousseff, deverá ampliar de 8,7 mil para 52 mil o número de estudantes negros que ingressam anualmente nas universidades públicas federais. É a chance de o Brasil acabar com as sequelas de um passado racista – afirmou o ministro interino da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Mario Lisboa Theodoro.

Bolsas

Para o coordenador da Educafro de Brasília, Fernando Benício dos Santos, a aprovação da nova política de cotas foi um avanço importante, mas é preciso ir além:

– Temos que nos preocupar agora com os que entram e não conseguem concluir o ensino superior. Das 100 mil bolsas do Programa Ciência Sem Fronteiras, apenas 1% é destinado a negros – informou.

Diante da baixa participação de bolsistas negros no programa, Mario Lisboa Theodoro informou que a Seppir está conversando com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), responsável pelo projeto, buscando estabelecer um percentual mínimo de 30%.

Outros desafios

Opinião semelhante tem o senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Agora que o sistema de cotas em universidades públicas foi aprovado, ele propõe que os movimentos afrodescendentes organizados lutem por uma nova bandeira, igualmente importante: alfabetizar 100% dos negros brasileiros e fazer com que todos terminem o ensino médio com a mesma qualidade dos brancos e ricos.

– Temos que dar um salto adiante e lutar por educação igual para todos para que, futuramente, não sejam necessárias mais cotas. Negro é tão inteligente quanto branco, desde que tenha oportunidade de estudar – afirmou o senador.

Cristovam avalia que não será possível aumentar a proporção de negros no ensino superior sem a melhora da educação de base no país.

– Temos apenas 3,8% de negros nas universidades e não vamos conseguir aumentar muito porque são poucos que terminam o ensino médio – afirmou.

O que diz a lei

Aprovada pelo Senado em 7 de agosto e sancionada pela presidente Dilma Rousseff 22 dias depois, a nova política de cotas para ingresso em universidades e escolas técnicas federais determina que as instituições reservem, no mínimo, 50% das vagas para estudantes que tenham cursado todo o ensino médio em escolas da rede pública.

Dentro dessa cota mínima de 50%, deverá haver a distribuição entre negros, pardos e indígenas, proporcional à composição da população em cada estado, tendo como base as estatísticas mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A política de cotas tem validade de dez anos a contar de sua publicação. As instituições de ensino terão quatro anos para implantar progressivamente o novo sistema.

Escravidão

Na abertura da reunião desta segunda-feira, o senador Paulo Paim (PT-RS) reivindicou a aprovação rápida da proposta de emenda à Constituição de combate ao trabalho escravo.

A PEC 57/1999 (PEC 438/01, na Câmara dos Deputados) permite a expropriação de imóveis rurais ou urbanos onde a fiscalização encontrar exploração de trabalho escravo. A matéria está na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado.

– Avançamos no Estatuto da Igualdade Racial e na política de cotas, mas a PEC não andou – lamentou Paulo Paim, que pediu ajuda dos colegas senadores para aprovação do texto.

Durante a reunião, Paim e Cristovam Buarque foram homenageados pelo Movimento dos Sem Universidade (MSU).

 

Agência Senado

 

Notícias

Construtora pode reter taxa de personalização de imóvel em caso de distrato

Sob medida Construtora pode reter taxa de personalização de imóvel em caso de distrato Danilo Vital 16 de julho de 2025, 8h49 A magistrada destacou que o contrato de compra e venda previu a retenção da taxa porque os materiais selecionados para personalizar a unidade têm natureza personalíssima e,...

Artigo: STJ garante proteção do lar para além da morte – por Gabriela Alves

Artigo: STJ garante proteção do lar para além da morte – por Gabriela Alves Origem da Imagem/Fonte: Extraída de Colégio Notarial do Brasil São Paulo Recente decisão da 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reafirmou uma diretriz fundamental no ordenamento jurídico brasileiro: a proteção...

A proteção ao bem de família não é absoluta

A proteção ao bem de família não é absoluta Thallyta de Moura Lopes STJ fixa teses que restringem a penhora do bem de família em hipóteses de hipoteca, exigindo demonstração de benefício direto à entidade familiar. quarta-feira, 9 de julho de 2025 - Atualizado em 8 de julho de 2025 15:00 "Para...

Pagamento espontâneo após citação valida execução, diz TJ-MG

Causa reconhecida Pagamento espontâneo após citação valida execução, diz TJ-MG 8 de julho de 2025, 9h56 Conforme se verifica dos autos de origem, o agravante não arguiu, em nenhum momento, qualquer nulidade da execução promovida pelo condomínio agravado. Confira em Consultor Jurídico    ...