Sociólogo defende responsabilidade dos tribunais sobre a democracia

Foto: Luiz Silveira

Sociólogo defende responsabilidade dos tribunais sobre a democracia

30/10/2012 - 19h42

O sociólogo e jurista português Boaventura de Sousa Santos atribuiu aos juízes parte da missão de reduzir as injustiças sociais e a responsabilidade do Poder Judiciário na preservação da democracia, nesta terça-feira (30/10), em Brasília. Palestrante convidado para encerrar o Seminário Justiça em Números 2012, promovido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Sousa Santos citou 15 juízes assassinados durante o período em que pesquisava na Colômbia (entre 1995 e 1999) como exemplo do preço que os magistrados pagam por combater as injustiças – à época, a violência no campo e o narcotráfico.

“Essa é a dimensão da responsabilidade do sistema judicial em uma sociedade que é complexa e injusta; portanto, nós, integrantes do sistema de Justiça, não podemos resolver toda a injustiça, mas, se não fizermos a nossa cota-parte na redução da injustiça, de duas, uma: ou seremos ostracizados pela população ou então nos tornaremos uma instituição irrelevante”, afirmou o estudioso, que dirige o Observatório Permanente da Justiça Portuguesa.

O sociólogo lembrou os anos em que estudou no Brasil, onde viveu em favelas do Rio de Janeiro, nos anos 1970. Também contou como, a partir de vivências na comunidade do Jacarezinho, criou o conceito de “Direito de Pasárgada” (nome que serviu de apelido à comunidade onde morou durante a ditadura), espécie de sistema de Direito paralelo à Justiça Estatal, operado pela Associação de Moradores da favela na falta da presença do Estado.

“Os tribunais não têm de resolver a questão social, mas têm de dar a sua contrapartida para a democratização do país, para a preservação da democracia, para a aproximação dos cidadãos à Justiça. Na sociedade em que vivemos hoje, com grande concentração de terras, com grande violência extrajudicial, os tribunais têm de ser muito fortes – e isso não é fácil”, disse.

Presidente – Na apresentação do sociólogo português, o presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal, ministro Ayres Britto, ressaltou outro lado pouco conhecido de Boaventura de Sousa Santos: o lado poeta. “No seu livro Escrita INKZ: antimanifesto para uma arte incapaz, encontrei poemas encantadores, que me levam a afirmar que o livro foi o melhor que li no Brasil nos últimos 10 anos”, disse Ayres Britto. Na saudação de boas-vindas ao jurista, Ayres Britto lembrou que o CNJ representa uma tentativa de se criar um órgão de vanguarda, “no sentido republicano, com os valores republicanos que dão sentido e grandeza a nossa instituição e a nosso país”, concluiu.

O conselheiro Neves Amorim, outro integrante da mesa, usou o elevado número de processos que tramitam na Justiça brasileira – 90 milhões, segundo o Justiça em Números 2011 – no seu apelo por mudanças no Poder Judiciário. “Tirando os incapazes, as crianças, enfim, é praticamente um processo por pessoa no Brasil. Ou nós criamos Justiça com nova estratégia, nova gestão, nova mentalidade ou não vamos atingir o objetivo da cidadania para qual o Judiciário foi criado. O CNJ tem mostrado que Justiça tem de ser mais cidadã, uma casa onde o cidadão vem solucionar seus problemas”, afirmou.


Manuel Carlos Montenegro
Agência CNJ de Notícias
 

Notícias

STJ valida filiação socioafetiva post mortem sem manifestação expressa

Família STJ valida filiação socioafetiva post mortem sem manifestação expressa 3ª turma reconheceu vínculo de filha criada desde a infância, ainda que falecidos não tenham formalizado adoção. Da Redação terça-feira, 7 de outubro de 2025 Atualizado às 18:55 Por unanimidade, 3ª turma do STJ...

Renúncia à herança e sua extensão a bens descobertos posteriormente

Opinião Renúncia à herança e sua extensão a bens descobertos posteriormente Mathias Menna Barreto Monclaro 7 de outubro de 2025, 7h01 Não se deixa de reconhecer que, em certos contextos, a rigidez da solução pode suscitar debates sob a ótica da justiça material, sobretudo em heranças complexas, em...

Juiz nega penhora de imóveis rurais usados para subsistência

Proteção Juiz nega penhora de imóveis rurais usados para subsistência Magistrado reconheceu que a família do devedor explora diretamente a terra para sua subsistência e que os imóveis se enquadram como pequena propriedade rural. Da Redação domingo, 5 de outubro de 2025 Atualizado em 3 de outubro de...

Assinatura eletrônica e digital: entre prática judicial e debate acadêmico

Opinião Assinatura eletrônica e digital: entre prática judicial e debate acadêmico Cícero Alisson Bezerra Barros 2 de outubro de 2025, 18h25 A confusão entre os termos reside justamente no fato de a assinatura digital ser uma modalidade específica de assinatura eletrônica, mas dotada de requisitos...