Uso de remédio para deficit de atenção cresceu 775% em 10 anos

25/09/2014 - 13h03

Uso de remédio para deficit de atenção cresceu 775% em 10 anos

Um projeto de lei obriga o governo a manter um programa de acompanhamento integral do TDAH para estudantes do ensino básico da rede pública e privada.

Cada vez mais comum no Brasil, o transtorno do Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) costuma causar problemas no convívio social e familiar, e muitas vezes atrapalha o desempenho na escola. Em geral, aparece na infância - afeta de 3% a 5% das crianças.

Nos últimos 10 anos, o uso de ritalina – nome comercial do metilfenidato, receitado para o transtorno – subiu 775% no Brasil. O dado, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), levanta dúvidas sobre possíveis erros de diagnóstico e sobre o tratamento.

De um lado, efeitos colaterais do remédio. Do outro, consequências psicológicas graves provocadas pela falta de medicação, como baixa autoestima, depressão e abuso de drogas. No meio do caminho, o paciente.

A questão é tema de um projeto de lei, em análise na Câmara dos Deputados. O PL 7081/10obriga o governo a manter um programa de acompanhamento integral do TDAH e de outros transtornos de aprendizagem para estudantes do ensino básico da rede pública e privada.

A relatora do projeto na Comissão de Educação, deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), aposta na capacitação dos profissionais da saúde para garantir diagnósticos mais precisos. “Quando a gente qualifica o diagnóstico, fazendo com que as informações cheguem de forma aprofundada aos médicos, com certeza a prescrição de ritalina passa a ser mais coerente, e não de forma deliberada”, afirma a parlamentar.

Erro de diagnóstico
Não existe um exame para comprovar a existência do transtorno. O diagnóstico é dado com base na rotina do paciente. Em crianças, são levadas em conta informações dos pais e da escola. Entre as características mais comuns estão: dificuldade de concentração e de seguir instruções. Pessoas inquietas, agitadas e muito falantes também são candidatas a receber o diagnóstico.

Como forma de questionar uma possível prescrição indiscriminada do remédio, foi criado em 2010 o Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, que reúne 40 entidades acadêmicas profissionais para difundir as críticas que existem na literatura científica.

A psicanalista e especialista em psicologia escolar Kátia Batheney questiona o excesso de diagnósticos. “Será que as crianças estão realmente mais agitadas, que nós estamos diante de uma epidemia de hiperatividade, ou estamos superestimando as crianças?”, questiona ela. Kátia ressalta que, desde cedo, as crianças são expostas a vários estímulos tecnológicos, ao mesmo tempo em que a escola não acompanha essa demanda por estímulos.

Tecnologia
O pediatra e professor da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Nogueira Aucélio concorda que a tecnologia (computadores, tablets, videogames, etc.) pode gerar um estresse cerebral e levar a um quadro de TDAH. “É preciso ter um controle de horas e momentos de uso de tecnologia. Não pode ser algo exagerado.”

Ele acrescenta que o diagnóstico do transtorno é subjetivo e, por isso, precisa ser criterioso. Segundo o pediatra, a idade mínima para começar a tomar medicamento é 10 anos, em razão do estágio das funções cerebrais. “É muito comum crianças com menos de 10 anos que tomam ritalina e, em vez de melhorar a atenção, só têm efeito colateral.”

Reportagem - Mariana Przytyk 
Edição - Daniella Cronemberger
Origem da Foto/Fonte: Agência Câmara Notícias

 

Notícias

Pela 1ª vez, uniões consensuais superam casamento civil e religioso

Pela 1ª vez, uniões consensuais superam casamento civil e religioso Censo 2022 revela que 51,3% da população tinha relação conjugal Bruno de Freitas Moura - Repórter da Agência Brasil Publicado em 05/11/2025 - 10:03 Brasília Origem da Imagem/Fonte: Agência Brasil  -  Certidão de...

STJ autoriza penhora de imóvel financiado para quitar dívida de condomínio

STJ autoriza penhora de imóvel financiado para quitar dívida de condomínio Alessandro Junqueira de Souza Peixoto A decisão do STJ muda o jogo: Agora, imóveis financiados também podem ser penhorados para pagar dívidas de condomínio. Entenda o que isso significa para síndicos e...

Neto poderá ter avós maternos reconhecidos como seus pais

Neto poderá ter avós maternos reconhecidos como seus pais Ele moveu ação para reconhecimento de paternidade e maternidade socioafetiva 29/10/2025 - Atualizado em 29/10/2025 A 4ª Câmara Cível Especializada do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) cassou uma sentença da Comarca de Diamantina e...

Georreferenciamento: novo prazo para 2029 gera alívio e controvérsia

Opinião Georreferenciamento: novo prazo para 2029 gera alívio e controvérsia Nassim Kassem Fares 27 de outubro de 2025, 19h35 O projeto e seu substitutivo, que estendeu a prorrogação para todos os imóveis rurais, tiveram como objetivo oferecer “uma solução legislativa viável, segura e proporcional...