Artigo – Casamentos internacionais: Amor, legalidade e responsabilidade

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Artigo – Casamentos internacionais: Amor, legalidade e responsabilidade

Por Rudyard Rios

O artigo analisa os casamentos entre brasileiros e estrangeiros, destacando o papel da legislação em garantir segurança jurídica sem impedir o florescimento de uniões legítimas.

Um mundo conectado e os desafios das uniões internacionais

Em um mundo cada vez mais conectado, os encontros entre pessoas de diferentes nacionalidades tornaram-se uma realidade crescente. Como juiz de paz, celebro frequentemente casamentos entre brasileiros e estrangeiros, uniões que envolvem não apenas sentimentos, mas também desafios culturais, linguísticos e jurídicos.

Essas histórias são, muitas vezes, inspiradoras, mas exigem atenção redobrada quanto à legalidade e legitimidade da união. O Brasil, por meio de sua legislação, demonstra maturidade ao equilibrar acolhimento e proteção, evitando abusos sem impedir o florescimento de relações legítimas.

Casamentos internacionais: Realidade em números

Em 2024, o Brasil registrou 927.369 casamentos civis, consolidando a recuperação do setor após anos de retração. Em comparação, foram 940.799 registros em 2023 e 970.041 em 2022, conforme dados do IBGE e do site oficial do Registro Civil.

Embora os relatórios públicos resumidos não informem a quantidade exata de casamentos entre brasileiros e estrangeiros, essa informação pode ser obtida na Tabela 4780 do SIDRA/IBGE, que permite filtrar os casamentos conforme a nacionalidade de ambos os cônjuges. Esses dados técnicos são fundamentais para entender a realidade dos casamentos mistos no país.

Casamentos civis no Brasil:

2022: 970.041

2023: 940.799

2024: 927.369

Fonte: IBGE – Estatísticas do Registro Civil / Registrocivil.org.br

O cuidado da legislação brasileira

É comum o equívoco de que o casamento com um brasileiro garante automaticamente a cidadania. Na prática, o que o estrangeiro pode solicitar é a residência temporária ou permanente, desde que comprove a existência de um vínculo afetivo real e estável.

A legislação brasileira, nesse ponto, atua com responsabilidade ao estabelecer critérios que protegem ambas as partes. Destacam-se:

Tradutor público juramentado obrigatório: Quando um dos cônjuges não compreende suficientemente a língua portuguesa, é obrigatória a presença de tradutor juramentado na cerimônia, garantindo que o consentimento seja pleno e consciente.

Documentação legal e traduzida: Certidões de nascimento, divórcio e outros documentos emitidos no exterior devem ser traduzidos por tradutor juramentado e, quando necessário, apostilados conforme a Convenção de Haia.

Apostilamento da certidão de casamento: Após a cerimônia, oriento os casais a apostilar a certidão brasileira, o que facilita o reconhecimento internacional do casamento, especialmente útil quando o casal pretende residir fora do Brasil ou pleitear benefícios migratórios ou sucessórios.

Essas exigências não existem para dificultar, mas para garantir a legalidade e a segurança jurídica da união, protegendo os direitos de ambos os cônjuges.

O papel do juiz de paz: Orientar e garantir segurança

No exercício da minha função, percebo que meu papel vai além da condução da cerimônia. É também um momento de acolhimento, escuta e orientação jurídica. Explico os trâmites legais, esclareço dúvidas sobre documentação e incentivo os casais a formalizarem sua união com consciência e responsabilidade.

Celebrar um casamento é sempre um ato solene. Quando envolve cônjuges de nacionalidades distintas, torna-se também um encontro entre culturas e sistemas legais, o que exige atenção, respeito mútuo e conhecimento técnico.

Conclusão: Acolher o amor com responsabilidade

O Brasil é um país aberto às relações internacionais, mas sua legislação age com prudência ao exigir comprovação de vínculos reais. O equilíbrio entre acolher o amor e prevenir abusos é uma clara demonstração da maturidade jurídica brasileira.

Como juiz de paz, celebro com alegria os casamentos entre brasileiros e estrangeiros. E acredito que, quando há boa-fé, orientação e cuidado, a união civil deixa de ser apenas um ato formal e se torna, de fato, um compromisso legítimo de vida a dois, com segurança, respeito e responsabilidade.

Rudyard Rios: Juiz de Paz pelo TJDFT – Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Formado em Direito e Filosofia, pós em Ciência Politica, Mestrando em Direito pela UNB com foco em Direito de Familia.

Fonte: Migalhas
Extraído de Anoreg/BR

______________________________________________

 

                                                                                                                       

                 

 

Notícias

Artigo – Projeto de Lei nº 6.204/2019: desjudicialização da execução civil

Artigo – Projeto de Lei nº 6.204/2019: desjudicialização da execução civil O Projeto de Lei nº 6.204/2019 propõe que no Brasil ao tabelião de protesto seja delegada a função pública de execução de títulos por quantia certa, líquida e exigível, por meio de outorga a um profissional de direito...

Juiz decide que prática de agiotagem deve ser comprovada pelo devedor

ÔNUS DA PROVA Juiz decide que prática de agiotagem deve ser comprovada pelo devedor 22 de agosto de 2022, 9h43 O juiz também destacou que o devedor "nada apresentou para mostrar que o inconteste débito correlato à monta tomada em empréstimo tenha sido satisfeito ou de qualquer outro modo...

Meninos podem alterar registro civil e retirar sobrenome do gênero feminino

O QUE HÁ EM UM NOME? Meninos podem alterar registro civil e retirar sobrenome do gênero feminino 16 de agosto de 2022, 11h33 Por Tábata Viapiana Consta dos autos que os meninos, menores de idade, foram registrados com o sobrenome "Vitória" e, por isso, alegam sofrer bullying e constrangimentos de...

‘Minha filha me deu um nome’: homem conhece família do pai após 54 anos

‘Minha filha me deu um nome’: homem conhece família do pai após 54 anos Graças aos esforços da filha, Huanderson conheceu a família do pai após 54 anos Imagem: Yasmin Velloso/UOL “Eu acreditava que homem não chora, mas fraqueza é fingir indiferença nos momentos de dor”, diz o dono de...

Os riscos na compra e venda de bens imóveis

Os riscos na compra e venda de bens imóveis Debora Cristina de Castro da Rocha e Edilson Santos da Rocha Ainda que no momento da alienação, inexista penhora ou indisponibilidade recaindo sobre o imóvel, é de suma importância o dever de cautela pelo comprador sobre a conjuntura da situação fiscal,...