'Jeitinho brasileiro'

 

05/05/2011 - 19h01

MP é expressão do 'jeitinho brasileiro', gera distorções e atrapalha o Congresso, diz Ana Amélia 

 

Em pronunciamento nesta quinta-feira (5), a senadora Ana Amélia (PP-RS) disse que o instituto da Medida Provisória (MP) é uma "expressão do jeitinho brasileiro" utilizada no processo legislativo para driblar a morosidade de tramitação de propostas que deveriam estar contidas em projetos de lei do Executivo.

Ela ressaltou que o instituto vem sendo usado por sucessivos governos desde a sua criação pela Constituição de 1988, sendo que entre esse período e o final do governo Lula, em dezembro de 2010, já foram editadas o total de 1.076 MPs, o que representa o envio mensal médio de 4,2 MPs ao Congresso Nacional. O governo Dilma Rousseff editou 11 MPs até o presente momento, lembrou a senadora.

Ana Amélia ressaltou que a edição excessiva de MPs - cuja adoção, afirmou, foi pensada para a eventualidade de um regime parlamentarista, em vista do momento histórico vivido pelo Brasil em 1988 - gera uma série de distorções, atrapalha o funcionamento do Congresso Nacional e deturpa a sua principal prerrogativa, que é a de legislar, a qual passa a ser desempenhada pelo Executivo.

A senadora lembrou que até a promulgação da Emenda 32/01 a edição de MPs era permitida de forma indefinida, assim como a sua reedição. No entanto, afirmou, elas continuam a ser votadas sem passar pelas comissões temáticas e pela devida análise do Congresso Nacional, embora a legislação também preveja a criação de comissão mista para emitir parecer sobre a matéria.

O excesso de MPs, observou Ana Amélia, provoca ainda o trancamento da pauta de votações da Câmara e do Senado, onde, na maioria das vezes, as MPs chegam com o prazo esgotado para exame dos parlamentares.

Na avaliação de Ana Amélia, o principal problema gerado pela edição sem critério de MPs diz respeito aos efeitos produzidos de imediato na sociedade e nos serviços públicos, tendo em vista que o instituto tem força de lei e muitas vezes se torna difícil a reversão de seus efeitos.

Em aparte, o senador Itamar Franco (PPS-MG) manifestou apoio ao discurso de Ana Amélia, mas lembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF) também precisa responder com urgência aos pedidos de Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) sobre a juridicidade das MPs encaminhados pela oposição.

Já o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que a democracia não funciona bem onde o Executivo tem mais poder que o Legislativo. O senador também disse estar preocupado com a criação de um "partido único, já que a oposição não traz propostas claras e o Executivo procura ampliar seu leque de apoio, cooptando os movimentos sindicais, intelectuais, universidades e organizações não governamentais, formando um só bloco de pensamento"

Por sua vez, o senador Pedro Taques (PDT-MT) disse que a EC 32/01 não resolveu o problema gerado pelas MPs. Em sua avaliação, o Legislativo continua sendo "um apêndice, um satélite, um carimbador do Poder Executivo".

-Não interessa o partido, o nome, o sexo do presidente, o que interessa é que vivemos sob o regime de um Executivo imperial, o Executivo manda e, aqui, nós obedecemos. Qualquer presidente hoje não sobrevive sem o instituto da MP - afirmou.

Pedro Taques disse ainda que a proposta de emenda constitucional que altera a tramitação das MPs, de autoria do presidente José Sarney e em análise no Senado, também não soluciona o impasse gerado pelas medidas provisórias.

- Vamos estabelecer um prazo para o Senado e a Câmara, mas criar um conflito entre as duas Casas. O que interessa é que um Legislativo que seja independente e cumpra suas funções constitucionais, o que não vem sendo feito - afirmou.

Para o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), é necessária uma avaliação crítica para agilizar o processo legislativo, "que é do século passado", assim como é preciso repensar a complexidade do Regimento Interno do Senado, "que muitas vezes não oferece a celeridade que a sociedade deseja".

Antes de concluir seu discurso, Ana Amélia também ressaltou que a edição de MPs contendo inúmeras matérias que não têm relação entre si provoca alterações substanciais no ordenamento legal, gerando insegurança jurídica, diminuindo a transparência dos atos governamentais e prejudicando a atividade parlamentar.

Agência Senado
 

Notícias

Juiz determina que valor da venda de bem de família é impenhorável

Juiz determina que valor da venda de bem de família é impenhorável Magistrado considerou intenção da família de utilizar o dinheiro recebido para adquirir nova moradia. Da Redação terça-feira, 16 de abril de 2024 Atualizado às 17:41 "Os valores decorrentes da alienação de bem de família também são...

Cônjuge não responde por dívida trabalhista contraída antes do casamento

CADA UM POR SI Cônjuge não responde por dívida trabalhista contraída antes do casamento 15 de abril de 2024, 7h41 Para o colegiado, não se verifica dívida contraída em benefício do núcleo familiar, que obrigaria a utilização de bens comuns e particulares para saná-la. O motivo é o casamento ter...

Atos jurídicos e assinatura eletrônica na reforma do Código Civil

OPINIÃO Atos jurídicos e assinatura eletrônica na reforma do Código Civil Ricardo Campos Maria Gabriela Grings 12 de abril de 2024, 6h03 No Brasil, a matéria encontra-se regulada desde o início do século. A Medida Provisória 2.200-2, de 24 de agosto de 2001, estabeleceu a Infraestrutura de Chaves...

A importância da doação com usufruto vitalício e encargos

A importância da doação com usufruto vitalício e encargos Amadeu Mendonça Doação de imóveis com usufruto e encargos como alimentos promove transição patrimonial e segurança familiar, requerendo documentação precisa e compreensão legal. quarta-feira, 3 de abril de 2024 Atualizado às 14:39 Dentro do...