União estável pós-morte: Justiça reconhece vínculo afetivo!

União estável pós-morte: Justiça reconhece vínculo afetivo!

Alessandro Junqueira de Souza Peixoto

Mesmo sem casamento, é possível ter direitos após a morte do companheiro. Entenda como a Justiça reconhece uniões estáveis e protege quem ficou.

sábado, 16 de agosto de 2025
Atualizado em 15 de agosto de 2025 10:36

1. Introdução

O Brasil do século XXI vive uma transformação profunda nas formas de amar, viver e construir família. Já não é apenas o casamento que define um núcleo familiar. A convivência duradoura, pública e baseada no afeto também é reconhecida como uma forma legítima de família: a união estável.

Mas e quando essa união nunca foi registrada formalmente em vida e uma das partes falece? É possível buscar esse reconhecimento após a morte?

Sim. E a Justiça tem garantido esse direito em muitos casos. Estamos falando do reconhecimento da união estável post mortem - um caminho delicado, mas legítimo, entre o afeto vivido e os direitos que dele decorrem.

2. O que diz a Justiça brasileira?

O STJ já decidiu que é possível reconhecer uma união estável mesmo após a morte de um dos companheiros, desde que haja provas claras de que aquela relação realmente existia, nos termos do art. 1.723 do CC: convivência pública, contínua, duradoura e com intenção de formar família.

Um caso emblemático (REsp 1.157.273/RN) reconheceu duas uniões estáveis simultâneas com o mesmo falecido. Ambas as companheiras foram reconhecidas como legítimas e dividiram a pensão por morte em 50% para cada uma. A relatora, ministra Nancy Andrighi, destacou que a realidade social deve ser considerada na análise do direito.

Por outro lado, alguns julgados do STJ exigem que a relação anterior tenha sido encerrada de fato, especialmente quando há casamento não dissolvido. Ou seja, a Justiça avalia cada caso com atenção aos detalhes e às provas apresentadas.

3. Onde deve ser proposta a ação?

Em 2024, o STJ decidiu que a ação para reconhecimento da união estável post mortem deve ser proposta no último domicílio do casal (REsp julgado em dezembro/2024), mesmo que seja contra herdeiros ou o espólio. Isso facilita o acesso à Justiça e respeita o vínculo geográfico da relação.

4. O que as famílias de hoje nos ensinam?

A pluralidade dos arranjos afetivos é um fato. O Direito não pode mais ignorar famílias formadas por vínculos reais, mesmo sem certidão de casamento. O afeto, a convivência e a intenção de formar uma vida em comum são, sim, formas legítimas de constituir família.

Negar esses direitos com base apenas na ausência de registro formal é contrariar a dignidade da pessoa humana - um dos pilares da nossa Constituição.

Além disso, muitos casais escolhem não se casar por inúmeras razões, mas vivem relações estáveis, fiéis e duradouras. Essas relações merecem ser protegidas, inclusive após a morte de um dos parceiros.

5. E como provar a união?

Se você viveu com alguém por anos e agora precisa garantir o seu direito, saiba que existem meios de demonstrar a existência da união estável, mesmo que não tenham assinado nenhum documento formal.

Você pode reunir:

Testemunhos de amigos e familiares;
Comprovantes de residência em comum;
Fotografias;
Mensagens;
Declarações de imposto de renda;
Inclusão em plano de saúde;
Despesas divididas;
Cartas, vídeos ou redes sociais.
Tudo isso ajuda a demonstrar que vocês viviam como uma família.

6. Por que isso é importante?

Muitas pessoas vivem relações reais, intensas e duradouras, mas que não foram oficializadas. E, quando o pior acontece, quem ficou sofre duas perdas: a emocional e a jurídica.

Sem o reconhecimento da união estável, a pessoa sobrevivente pode perder direitos à herança, à pensão por morte e até mesmo o lar onde vivia. Mas o afeto vivido, a vida construída a dois e o cuidado mútuo não podem ser ignorados.

A Justiça vem reconhecendo que a falta de papel não apaga a existência de uma família.

7. Conclusão

Se você passou anos ao lado de alguém, construiu uma vida juntos, compartilhou alegrias, dores e responsabilidades, sua história merece respeito - mesmo que não tenha sido oficializada em cartório.

Se essa pessoa faleceu e você ficou sem direitos, a união pode (e deve) ser reconhecida judicialmente, para que o amor não termine também nos papéis.

Na dúvida, procure orientação jurídica. O seu vínculo pode ser protegido. Afinal, família não é só o que se escreve na certidão. É o que se constrói no dia a dia.

Alessandro Junqueira de Souza Peixoto
Advogado Especialista em Direito Imobiliário, Família e Sucessões, com 7 anos de experiência jurídica! Graduado pela PUC-GO. Pós-Graduado em Direito Imobiliário, Empresarial e Tributário Empresarial.

Fonte: Migalhas

________________________________________________

 

                                                                                                                       

 

 

                 

Notícias

Concepção de filho não é suficiente para caracterizar união estável

Concepção de filho não é suficiente para caracterizar união estável 23/1/2013 17:43 Na união estável de um casal, que exige convivência pública, contínua e duradoura com o objetivo de constituir família, e não somente conceber filhos advindos de simples relacionamento sexual, aplica-se o regime de...

Servidora obrigada a contribuir para o custeio da saúde será ressarcida

22/01/2013 - 08h09 DECISÃO Servidora obrigada a contribuir mensalmente para o custeio da saúde será ressarcida A Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reafirmou entendimento, segundo o qual, os servidores públicos estaduais que foram obrigados a contribuir mensalmente para o custeio...

A jurisprudência do STJ sobre ação regressiva

20/01/2013 - 08h00 ESPECIAL A jurisprudência do STJ sobre ação regressiva É regra geral no direito civil brasileiro que o causador de um dano a outra pessoa tem a obrigação de repará-lo por meio de indenização. Se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação. Mas...

Filho tem direito a seguro de vida, mesmo se não for designado beneficiário

Filho tem direito a seguro de vida, mesmo se não for designado beneficiário A 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais manteve sentença da 34ª Vara Cível da capital que negava à funcionária pública aposentada M.C.S., residente na zona rural de Datas, o direito de receber indenização...

Sem prejuízo

17 janeiro 2013 Honorários podem ser penhorados de ganho de cliente Por Tadeu Rover Os honorários advocatícios têm natureza alimentar e, assim, indenização ganha em ação judicial por cliente — mesmo que miserável — pode ser penhorada para pagar o valor devido ao advogado pela...