Casal homoafetivo consegue adotar criança após criá-la por nove anos

Direito de família

Casal homoafetivo consegue adotar criança após criá-la por nove anos

Magistrada identificou prática ilegal de adoção dirigida, mas optou por destituir genitora do poder familiar em prol do melhor interesse da criança, já adaptada ao lar do casal.

Da Redação
segunda-feira, 8 de julho de 2024
Atualizado às 14:46

Casal homoafetivo obteve guarda definitiva de criança criada por eles desde o nascimento. A mãe biológica entregou a criança ao casal logo após o parto. Em sentença, a juíza de Direito Maria Socorro de Sousa Afonso da Silva, da seção Cível de Goiânia/GO, destacou o melhor interesse da criança, atualmente com nove anos, apesar de reconhecer que a ilegalidade da adoção dirigida.

Adoção dirigida

Também conhecida como adoção à brasileira, ocorre fora dos procedimentos legais estabelecidos pelo sistema de adoção. Neste caso, a mãe biológica entrega a criança diretamente a outra pessoa ou casal, sem passar pelo cadastro e os trâmites do sistema oficial de adoção. A prática é vedada pelo ECA, pois não segue os procedimentos formais que visam garantir o melhor interesse da criança e a transparência do processo.

No caso, a criança foi entregue pela mãe ao casal logo após o nascimento, em 2015. Desde então, eles têm proporcionado assistência moral e material necessárias à criança, desenvolvendo vínculo afetivo e relação de parentalidade. 

O casal ingressou com ação de destituição do poder familiar cominada com adoção e teve o pedido de urgência para guarda provisória concedida. 

Durante a instrução processual, foram colhidos depoimentos das partes e testemunhas, ficando evidente que a mãe biológica não procurou ou participou da vida da criança desde a entrega do bebê. 

Ademais, ela não se opôs formalmente à permanência do filho com o casal e não buscou reaver a guarda ou manter contato com a criança, admitindo em depoimento que não tinha condições de cuidar do filho devido ao seu envolvimento com drogas.

Mãe biológica entregou criança, logo após o nascimento, aos cuidados do casal. (Imagem: Freepik)
Melhor interesse da criança

Ao analisar a ação, a juíza considerou que a mãe biológica nunca conviveu com a criança, não contribuiu para sua criação, nem participou de sua formação, configurando abandono. 

Assim, baseando-se -se no princípio do melhor interesse da criança, previsto no art. 227 da CF e nos arts. 1º e 19, §2º do ECA, destituiu o poder familiar da genitora, como medida drástica e excepcional, mas necessária visto o descumprimento dos deveres maternos.

A magistrada ressaltou que a criança está sob a responsabilidade dos requerentes desde o nascimento, tendo sido criada em um ambiente seguro e afetuoso. 

Embora tenha reconhecido a prática de adoção dirigida, priorizou o bem-estar e a segurança da criança, já adaptada ao lar do casal.

"Nota-se que a criança está sob a responsabilidade dos requerentes desde os primeiros dias de vida, quando foi entregue espontaneamente pela própria genitora. Em que pese a evidente prática de adoção dirigida, caracterizada pela entrega direta da criança pela genitora aos requerentes, o fim a ser perseguido nestes autos é o bem-estar e a segurança de ---, em condições favoráveis ao seu desenvolvimento."

Ao final, a juíza determinou o cancelamento do registro de nascimento original da criança e a emissão de um novo registro, proibindo qualquer menção à origem do ato na certidão de nascimento, conforme o ECA.

Processo: 5349932-08.2023.8.09.0051

Fonte: Migalhas

                                                                                                                            

Notícias

STJ exclui de partilha de novos bens herdeiro que renunciou à herança

Sucessão STJ exclui de partilha de novos bens herdeiro que renunciou à herança Colegiado entendeu que renúncia à herança é ato irrevogável, impedindo participação em sobrepartilha. Da Redação terça-feira, 13 de maio de 2025 Atualizado às 18:24 Por unanimidade, a 3ª turma do STJ decidiu que a...

Justiça reconhece pai socioafetivo sem excluir o biológico

Vínculo afetivo Justiça reconhece pai socioafetivo sem excluir o biológico O juiz autorizou a expedição de mandado ao cartório de registro civil para averbação da sentença. Da Redação quarta-feira, 14 de maio de 2025 Atualizado às 12:05 A vara de Família e Sucessões de Varginha/MG reconheceu, por...

Juíza reconhece nulidade de algibeira em caso de execução de patrimônio

SÓ QUANDO CONVÉM Juíza reconhece nulidade de algibeira em caso de execução de patrimônio 8 de maio de 2025, 11h57 Tal conduta caracteriza a chamada ‘nulidade de algibeira’. Em síntese, a nulidade de algibeira consiste na estratégia de não alegar a nulidade no momento em que ela ocorre, utilizando-a...

Quando o bem de família pode ser penhorado? Jurisprudência do STJ

Opinião Quando o bem de família pode ser penhorado? Jurisprudência do STJ Caroline Valéria Adorno de Macêdo 5 de maio de 2025, 6h32 A jurisprudência do STJ tem reiterado que tais exceções devem ser interpretadas restritivamente, em respeito à função social da moradia e à dignidade da pessoa...

Herança digital e o testamento como aliado

Herança digital e o testamento como aliado Thauane Prieto Rocha A herança digital ganha destaque como parte essencial do testamento, permitindo que o testador decida sobre bens e memórias digitais após a morte. sexta-feira, 25 de abril de 2025 Atualizado em 28 de abril de 2025 08:08 Ao realizar uma...